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Carlos Mangueira Barreto Junior

1987 - 2020

Mãos mágicas que faziam bolos deliciosos. Os sabores? Amor, paz, afeto, abraços apertados e fé!

Muito desejado desde o nascimento por sua mãe, que sonhava em ter um menino, Carlinhos tornou-se "a promessa de Deus" de dona Maria Marlene. Foi o caçula e único homem dos filhos.

Adulto, casou-se com Luciana. Era esforçado e trabalhador. Apesar da formação em Marketing, Carlos atuava como auxiliar de arquivo e vendia doces que preparava com a esposa. A culinária, aliás, era uma de suas paixões na vida! Transbordava amor na massa dos bolos. Muito mais que simples bolos, eram fatias deliciosas de um sonho, levado com muito carinho às pessoas. Sonhava em abrir uma confeitaria.

Não era seu único sonho. Carlos sempre foi um homem calmo e tranquilo. Este jeito de ser se refletia nos próprios desejos: queria ter uma casa própria e cursar História na universidade. Conversador, aproveitava a venda dos doces para esticar uma prosa. Ser humano extraordinário, de fala mansa, transmitia paz e mansidão por onde passava. Nunca teve inimizades e fazia da fé uma constante em sua vida.

Segundo Luciana, o marido amava cozinhar, assistir séries, ir ao cinema e, claro, comer. Mas confessa também que ele era super distraído. Muitas vezes comprava as coisas erradas no mercado ou perdia seus pertences. O pior: tinha o costume de esquecer de lavar o banheiro! "Uma vez cheguei a colar um cartaz no banheiro escrito 'me lave, por favor!'. Acabou sendo muito engraçado, rimos bastante", conta a esposa.

Certas manias também faziam parte de seu jeito divertido. Antes de usar um copo, sempre assoprava dentro. Em todas as visitas à sogra Valéria, tinha de fazer um bolo! Era mania bem-vinda esta; seus bolos eram maravilhosos.

Carlão gostava de abraçar. Tinha um abraço forte, de urso, desses que envolve e aquece a alma. De sorriso fácil, era alegre e extremamente paciente. Nutria afeto especial pela esposa, que lembra com carinho de seu cuidado, de como ele a abraçava e beijava o tempo inteiro. "Eu era sua paixão. Ele dizia que amava até os meus defeitos. Foi com meu marido que aprendi o sentido e significado do verdadeiro amor", diz Luciana.

Carlos brincava muito com o sobrinho Pedro, de seis anos. Chamava-o "Pedroquinha". Ultimamente, "ele estava feliz e de bem com a vida. Dizia sempre: 'tudo que acontece de ruim na vida da gente é pra melhorar.", conta Luciana. E completa: "Meu gatinho, como eu o chamava, com certeza está fazendo suas delícias agora para Deus".

Carlos nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Itapevi (SP), aos 33 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Carlos, Luciana Aparecida Antonio. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Denise Pereira, revisado por Daniel Schulze e moderado por Phydia de Athayde em 7 de outubro de 2020.