1952 - 2020
Carioca de Bonsucesso, fixou morada no Ceará e cumpriu seu propósito de resguardar vidas através da medicina.
Zelar pela saúde, principalmente daqueles que carecem de acesso a esse direito fundamental, era o que movia Ronald. Sua conduta profissional e pessoal refletiam o reconhecimento que tinha de seu passado, das pessoas que proporcionaram seus estudos e a formação de seu caráter. Foi graças ao apoio dos avós paternos - proprietários de um posto de combustíveis onde ele trabalhava como forma de pagar o investimento em seus estudos - e de sua mãe, que se desdobrava como empregada doméstica para ajudar a custear o sonho do filho, que Ronald se tornou cirurgião geral.
Valorizar o simples deu o tom a sua existência e à prática de seu ofício, sendo justamente esse o motivo que o fez migrar para a região nordeste e encontrar ali o seu propósito. Por meio de um voluntariado nos anos 80, o Projeto Rondon, Ronald desembarcou no município de Cariús (CE) com previsão de retorno ao Rio; mas o que presenciou durante a expedição não lhe deu outra opção senão ficar. Nas cidades de Cariús e Iguatu, se apaixonou pelo povo simples e viu que seria mais útil atuando para quem mais necessitava.
Ao longo dos anos, construiu família, casou-se três vezes e foi pai de seis filhos, quatro biológicos: Paula Cristina, Carlos Ronald Júnior, Ariel e Rafael; e dois de coração: Rodrigo e Paulo Roberto. Tornou-se também um avô muito querido.
Fora dos corredores hospitalares e de seu consultório, o que dava contentamento a Ronald era pegar a estrada, rumo ao destino preferido dele: a praia. Entrava tanto no clima das viagens que virou um clássico vê-lo imitar um piloto de avião dizendo: “Atenção senhores passageiros, prendam os cintos de segurança e boa viagem”.
Apesar de não possuir descendência árabe, aonde quer que chegasse sempre pedia algum doce dessa culinária. Tinha gosto também pelo regional: desde os pratos típicos nordestinos até a companhia de pessoas que, assim como ele, sabiam reconhecer a riqueza de uma vida simples. Cultivou também o hábito de plantar árvores por todo canto que passava.
Ronald tornou-se o maior exemplo de como tratar o próximo para os filhos e os mais íntimos. E fazia total sentido ter como referência um homem que sempre preferiu pessoas genuínas. Era daqueles que, se fosse à casa de um empresário, dava mais atenção ao porteiro ou à doméstica. A filantropia fez parte de seu exercício profissional; por vezes atendia em seu consultório particular sem cobranças e não hesitava em oferecer ajuda médica a quem precisasse, onde quer que estivesse. Toda essa dedicação deixou raízes: dois de seus filhos seguiram a área médica e sua filha escolheu a enfermagem.
Apesar da formalidade e de um jeito sério e diplomático que seus 1,85m sustentavam, tinha carisma e uma pinta de galã - lembrava muito o ator Antônio Fagundes. Seu temperamento frio, de semblante fechado, nada tinha a ver com a grandeza de seu coração caloroso.
Do jeito que gostaria de ser lembrado, deixa seu legado de excelente profissional ao nomear a primeira UTI pública da cidade de Iguatu, que passou a se chamar “Dr. Carlos Ronald Corrêa” um mês após sua partida.
Cumpriu sua missão com maestria ao se dedicar incansavelmente à qualidade de vida de seus semelhantes.
Carlos nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Iguatu (CE), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Carlos, Paula Cristina. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Paula Ledo dos Santos e moderado por Rayane Urani em 9 de maio de 2021.