Sobre o Inumeráveis

Carolina Botechia

1984 - 2020

Doce. Era incrivelmente doce.

"Goiaba com bicho na casa da vó.
Corrida de cadeira de rodinhas no hospital Pirituba.
Banho nas bonecas na piscina de plástico.
Coreografias ensaiadas da Xuxa e do Latino.
A primeira vez que ouvimos Racionais.
Madrinha minha. Madrinha sua.
Eu ainda não aprendi a fazer seu bolo de chocolate, mas eu vou tentar, tá?

Fique em paz, minha Carol."

-

Esta é uma carta aberta de Claudecia Helena Soares Botechia, mãe de Carolina:

Para minha filha amada.

É e sempre será minha melhor amiga. Alegre, gentil,generosa e leal.

Fazia bolos e doces que aprendeu sozinha.

Amava seu marido, seus pais, avós, sobrinhas irmão, seus amigos e parentes.

Não deu tempo de ter seus próprios filhos, mas não tinha inveja de quem os tinha... pensava em adotar e amá-los. Tinha afilhados que considerava filhos doados de coração pelos amigos.

Amigos tinha aos bocados, era muito querida.

Trabalhava em órgão público e tinha por todos, principalmente pelos pacientes, muito carinho.

Nas festas do trabalho estava sempre pronta a participar e dar o seu melhor. Enfeitava com os temas de cada ocasião, fazia comidinhas deliciosas, fazia principalmente o que sabia que os pacientes iriam gostar. Contribuía com presentes e era sempre muito empolgada e envolvida.

Era a minha Carol, amorosa e sempre presente na minha vida... ela era meu presente.

Eu adorava ir às compras com ela. Tinha bom gosto, boas ideias, achava ofertas nas araras mais escondidinhas das lojas, depois íamos comer, falar sobre o que havíamos comprado, ríamos muito de cada situação vivida, falávamos sobre nossas vidas... ela amava viver e sonhar.

Ela me ensinava e mostrava muitas coisas, me ensinava sobre religião e sobre amar o próximo.

Fez catequese, primeira comunhão e crisma porque sempre foi seu sonho e tudo ela mesma quem procurou e se envolveu.

Ela adorava nosso cantinho no interior, fazia planos e projetos, que hoje os ponho em prática pra sempre, porlembrar que ela estará nas mínimas coisas, nas nossas vidas, em cada final de semana e em cada comemoração.

Meu amor, somos ainda uma corrente que soltou um elo apenas... um dia nos encontraremos pra soldar nossas vidas pela eternidade.

Te amo para sempre.

Carolina nasceu em São Paulo e faleceu em São Paulo, aos 36 anos, vítima do novo coronavírus.

História revisada por Rayane Urani, a partir do testemunho enviado por prima e mãe Greice Botechia e Claudecia Helena Soares Botechia, em 22 de dezembro de 2020.