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Celso Romão Cardoso de Almeida

1944 - 2020

Um tricolor apaixonado pelo time e pelos momentos em família. Caratinga e sua risada marcante deixam saudade.

Vindo de uma família grande, mantinha o hábito de visitar sempre os 13 irmãos, pelos quais era apaixonado. Todos os sábados pela manhã, mesmo com dificuldade de andar, em razão de sequelas de um AVC, era seu programa sagrado.

Aposentado, trabalhou por longos anos em uma fábrica, como auxiliar de máquinas e orgulhava-se de nunca ter demitido um funcionário.

Casou com a companheira de uma vida, Wilma... cinquenta e quatro anos de união. Com ela teve os filhos Celso Júnior, Pedrinho, Karynna e Gustavo. Alguns conheciam-no como Celsinho, mas a família o chamava carinhosamente de Caratinga.

Larissa conta: "Meu sogro sempre foi muito querido por todos, não havia quem não brincasse com ele em sua caminhada diária pela cidade. Caratinga era a alegria em pessoa... amigo, companheiro, engraçado. Um de seus prazeres era sentar-se na calçada pra bater papo com os vizinhos."

Uma paixão e um vício: a família e o Fluminense.

Adorava assistir aos jogos do Fluminense e ficou feliz além da conta quando viu o time jogar no Maracanã. "Quando o tricolor carioca ganhava era uma overdose de símbolos do time: andava com o uniforme, bandeira, faixa e ainda gritando 'Neeeense'", entrega a nora.

Já os momentos com a família eram muitos e sempre preciosos. Caratinga tinha um orgulho imenso dos sete netos e gostava de contar que quatro já estavam cursando Medicina.

Larissa lembra que às sextas-feiras o sogro ficava ansioso esperando o marido dela, o filho Pedro, chegar de viagem. Era um ritual nos encontrarmos à noite para uns comes e bebes bem gostosos.

Caratinga não dispensava nas horas vagas um jogo de bisca com a filha Karynna, a neta Ana Beatriz e a esposa Wilma. Não aceitava perder e 'ai de quem' pegasse o celular ou fizesse outra coisa na hora do jogo.

A saudade aperta quando Larissa fala das reuniões familiares: "Ele era a alegria das festas de aniversário da família. E na hora de comermos juntos, sua risada marcante faz muita falta à mesa. Lá estava meu sogro, sempre com um refrigerante do lado e comendo de tudo que tivesse; exceto pão e arroz, pois falava 'isso como em casa'. Era um homem muito alegre e também de uma fé gigantesca. Todos os dias, acompanhava o terço pela TV Aparecida. Estará conosco para a eternidade."



O sobrinho Igor também traz lembranças dessa pessoa tão querida. E já começa com uma saudade doce, de quem deixa marcas vivas no coração de quem ama...

"Caratinga nos deixou. Meu tio era forte, trabalhador e com um coração maior do que Cataguases. Afinal, não cansava de repetir: 'Trinta e três anos de serviço e nunca mandei um cara embora'. Não tenho histórias dessa fase, mas gostaria de ter", conta o sobrinho.

Houve uma época difícil para ele: travou uma batalha com o alcoolismo em um momento da vida. Independente de ter atravessado essa situação delicada, Igor tem lembranças alegres dessa fase... de como ele tratava as crianças. "Memórias de infância que ficarão gravadas pra sempre. Tenho certeza que meu primo Gustavo tem algumas histórias que deixam muita saudade."

Após alguns sustos da vida, a família ainda recebeu uma surpresa. As palavras de Igor traduzem a emoção do que viveram. "Sinto como se Deus tivesse sentido o quão frágil de saúde meu tio estava e, da sua forma, mandou um belo recado: 'Rapaz, vamos fazer o seguinte: ao invés de te dar apenas mais uma chance de vida, vou te transformar num anjo, pra iluminar ainda mais o dia a dia da sua família e dos seus próximos'."

A partir daí conhecemos o “Caratinga versão 2”. Uma pessoa autêntica e que passou a levar a vida de forma leve e sorridente. Desde que o Fluminense não fosse muito mal, claro! Movido a refrigerante, não dispensava sua sagrada caminhada pelo bairro. Com certeza, cumprimentando metade da cidade."

O sobrinho sentia sempre saudade de visitar o tio que era tão animado. Relata que essas idas eram ocasiões de muita zoação e gargalhadas. Só não era permitido sentar-se na cadeira de Caratinga!

E a despedida de Igor tem um tom triste, mas resiliente e cheio de ternura. "O sopro da vida trouxe hoje o ceifar da morte, a única certeza que temos. Não importa se havia isolamento ou se deveria ter havido. O que fez ou deixou de fazer. Quem somos nós para dizer como seria se algo tivesse acontecido diferente?

Mas há duas coisas que não morrem nunca, nas quais devemos nos apegar: os ensinamentos que ele deixou, inclusive os que nem imaginava, e as boas lembranças, que são muitas. Deixo meu beijo e meu abraço com carinho e afeto. Vá com Deus e descanse em paz."

Celso nasceu em Cataguases (MG) e faleceu em Leopoldina (MG), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela nora e pelo sobrinho de Celso, Larissa Werneck e Igor Maia. Este tributo foi apurado por Denise Pereira, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de novembro de 2020.