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Cibélia Berlim Rybaski

1957 - 2020

Junto das netas ela virava criança; a farra era completa, com direito a maquiagem, fantasia e muitas guloseimas.

Cibélia teve uma infância humilde, vivia com os pais e mais cinco irmãos, sendo três homens e três mulheres. Como os seus pais tinham que trabalhar, era ela quem ficava com a incumbência de cuidar dos irmãos, mesmo não sendo a mais velha. "Minha mãe era assim: dona de um coração generoso e de um enorme senso de responsabilidade.", conta a filha, Lilian.

Ela sempre foi muito espontânea , brincalhona, e adorava estudar. Na juventude trabalhou em uma loja de aviamentos, e depois em uma outra loja, dessa vez de tecidos. Era uma mãe, esposa e avó zelosa. Tinha compaixão pelo próximo, e não media esforços para ajudar.

Casou-se aos 19 anos, e viveu com seu esposo até 2020, foram quarenta e cinco anos de casados. A filha Lilian, conta com carinho a história dos pais: "Meu pai e minha mãe se conheceram na praia, ele foi passear com o cachorro que era da irmã, da casa onde ele estava hospedado. Minha mãe estava sentada com umas amigas, então ela perguntou para ele qual era a marca do cachorro; mesmo ele vendo que ela havia confundido raça com marca, respondeu todo educado que a raça era "collie", e ali eles se apaixonaram. Ele sugeriu que eles se correspondessem por carta, pois ele morava em Curitiba e ela em Itajaí; e assim começou tudo. Em menos de um ano eles se casaram; e depois de seis anos eu nasci."

"Sou filha única, pois - segundo os médicos - ela nem podia ter filhos, devido ao fato de seu útero ser virado e ser do tamanho do útero de uma criança, mas eu nasci por um milagre. Não importa o que os médicos digam, porque quando Deus quer, ele faz acontecer.", afirma Lilian.

Cibélia teve o privilégio de ver nascer duas netas: Laís e Beatriz, que em 2021 têm 15 e 13 anos, e elas as amava muito. "Antes de ser acometida pela depressão, tinha o maior gosto de brincar com as meninas e, principalmente, aprontar com elas. Quando eu ia ver, elas estavam pintadas, fantasiadas, comendo besteiras. Sempre teve muita imaginação, então inventava muitas coisas diferentes para brincar ou histórias para contar.", lembra Lilian.

"Amávamos ver filmes até quase amanhecer, e tomávamos sopa juntas, e ficávamos conversando até tarde e dando risadas, foram muitos momentos assim: especiais e bonitos. Quando tive as minhas filhas ela sempre vinha ficar comigo; ou quando as crianças estavam doentes, vinha me dar apoio, pois moro em Blumenau, e ela morava em Itajaí."

Cozinhava bem, mas nada que pudesse ser considerado como um dom especial. Inclusive, quando tinha a oportunidade de não cozinhar, de comer fora ou saborear uma refeição preparada por outras mãos, ela dava graças. "Acho que como desde criança foi obrigada a lidar com as panelas, ao ficar adulta já estava cansada da lida na cozinha.", comenta a filha, Lilian.

Cibélia gostava de ir à igreja - a família é evangélica -, de passear e de estar com o esposo, a filha e os irmãos. Dona de uma personalidade forte, Cibélia só fazia o que queria, não havia quem a demovesse de seus propósitos. Amava viajar e realizou o grande sonho de ir à Europa.

"Outra lembrança que enche meu coração de orgulho é de uma vez, de quando eu ainda era criança: nós tínhamos um último dinheiro para terminar o mês, minha mãe foi buscar um parente na rodoviária, então ela viu uma família que não tinha tinha dinheiro para voltar para sua terra natal e todos estavam passando fome. Ela deu nosso último dinheiro para eles, e me disse, quando a confrontei: 'Ninguém perde por ser bom minha filha.' Só sei que Deus nos abençoou; nem sei explicar como, mas terminamos o mês sem sentir a falta daquele dinheiro, não nos faltou nada."

"Essa frase eu sempre ouvia dela: "Ninguém perde por ser bom." Ela era dona uma de personalidade forte e, também, de um coração muito bom. Quem precisasse de qualquer coisa, ela ajudava, seja lá o que fosse ou quem quer que fosse. Essa era minha mãe: pessoa forte, que não tinha medo de nada, enfrentava o que fosse, com seu coração enorme; e amava - mais do que tudo -, a nossa família.", finaliza Lilian com o coração cheio de gratidão por ter tido a honra de ser filha dessa mulher tão extraordinária.

Cibélia nasceu em Itajaí (SC) e faleceu em Blumenau (SC), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Cibélia, Lilian Berlim Rybaski Piva. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 20 de agosto de 2021.