1960 - 2021
Gostava de contar sobre sua fé e da intimidade que construiu com Deus.
Cícera nasceu em um lar cristão: era filha de pastores e amava Deus sobre todas as coisas. Demonstrava sua fé não só nas horas em que se dedicava as inúmeras orações, mas nas conversas com Deus e na leitura da Bíblia - onde cujas páginas ficaram gastas pelo toque dos dedos que, carinhosamente, acompanhavam a palavra do dia. Sua devoção, ao pai de todos, se mostrava no amor que dedicava ao próximo. "Mulher de Deus, mãe dedicada e amiga; a vocação dela era cuidar", conta a nora Rosileia.
Na infância, foram várias as mudanças de endereço por conta do pastoreio. Sua família morou em Nazaré, no Tocantins; depois, em Tocantinópolis; e por fim, quando tinha 15 anos, mudaram-se para Araguaína, também no mesmo estado. Dentre os oito irmãos, era uma das duas meninas.
Alguns anos depois, casou-se e de sua união vieram dois filhos. Seu pai faleceu quando seu primeiro filho ainda era um bebê e, o esposo que tanto amava, foi diagnosticado com câncer no pulmão. Cícera, dedicou-se inteiramente para cuidar de seu companheiro, durante os três anos que esteve enfermo; embora nesse período tenha abdicado de alguns sonhos, zelar por ele foi, segundo dizia ela: o resgate do amor que sentiam um pelo outro.
Dona de sorriso fácil, contagiava a todos com sua gargalhada sincera e genuína. Cuidava de seu lar e do próximo. Amava os netos e amava recebê-los em sua casa quando estavam de férias - e esse amor era recíproco, pois ninguém sentiu tanto a perda dela quanto os netos.
Também, com muita sabedoria e doçura, era uma sogra que não tinha vergonha de partilhar suas dúvidas e receios com a nora. Rosileia conta sobre a falta que sente em escutar: “Filha, tenho que te contar algo, porque se não te falar não sei como fazer.” - e como esse "filha" era especial de ouvir -, Cícera tinha o costume de dizer que a nora era a filha que Deus não tinha lhe dado. “Confidentes e amigas, por inúmeras vezes chorávamos orando juntas. Considerava ela como uma segunda mãe, e sou grata a Deus por ter me permitido fazer parte da família", conclui, com amor.
Assim que o sogro faleceu, Rosileia convidou Dona Cícera para morar com eles, mas ela recusou; respondeu que não conseguiria deixar de morar com a própria mãe, que já estava bem debilitada em consequência de um AVC, e que a cuidaria até o fim de sua vida. A mãe que tanto zelou partiu junto com ela, pela mesma causa.
Cícera era acalanto e porto seguro. Deixa amigos, dois filhos, cinco netas; e também, grandes lições de fé e amor.
Cícera nasceu em Tocantinópolis (TO) e faleceu em Araguaína (TO), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela nora e filha do coração de Cícera, Rosileia Santos Oliveira. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Ana Helena Alves Franco, editado por Rosa Osana, revisado por Luana da Silva e moderado por Rayane Urani em 1 de outubro de 2021.