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Cícero José Rodrigues dos Santos

1958 - 2020

Transformava a sala em uma pista de dança para curtir com sua Lindalva, e se esbaldava na piscininha com os netos.

Cícero era auxiliar de assistência médica e sua fama corria longe. Por isso, as pessoas vinham de outros lugares em busca de auxílio. Ele fazia tudo de coração: marcava exames, arrumava consultas, para tudo ele dava um jeito.

A esposa Lindalva engravidou antes do casamento. Eles não se casaram imediatamente, levou cerca de uma década para oficializar a união. Porém, o amor sob o mesmo teto durou quarenta e dois anos.

Ele chamava a esposa de "Filhinha", "Aperreava Lindalva com algumas coisas, mas era extremamente dependente dela. Tinha ciúme por bobagens", conta a filha Vilma.

O casal gostava de pedir comida quase de madrugada. Às vezes, Cícero colocava música e dançava com Lindalva na sala.

Além de ter ganhado o status de médico por experiência, a paixão por música deu-lhe outra "profissão", a de DJ, ele era o "DJ Manteiga", amante de música cubana, brega e internacional, Cícero também curtia os hits do momento. Tinha vários CDs com coletâneas. Nas festas em que comandava o som, de vez em quando mudava de faixa antes da música terminar, coisas de Cícero.

Outro talento do "doutor" e "DJ Manteiga" era o jogo de dominó, ele foi campeão em vários torneios e presidente de ligas dessa modalidade esportiva.

Cícero também era alucinado pelo Santa Cruz. Ficava nervoso durante as partidas do seu time, chegava a virar de costas quando havia lances perigosos. Colecionava diversas camisas e bandeiras do clube.

Bom de boca, não tinha uma comida preferida, mas sim várias: qualquer prato que levasse camarão, rabada, buchada, galinha de cabidela, peixe com leite de coco, mocotó...

Sua grande mania era pedir. Usava a frase: "Já que você está em pé..." e completava com o pedido.

Tinha muito orgulho do Hospital dos Servidores, onde trabalhou por mais de quarenta e três anos e encerrou sua vida terrena também.

Era um homem de muitas paixões, mas o maior amor de Cícero era a família. Os almoços de domingo eram sagrados com os três filhos, Vilma, Cíntia e Leandro, e os seis netos, Guilherme, Vivian, Bruna, Cícero Vinícius, Arthur e Lara.

A esposa Lindalva conta que ele fazia coisas pelos netinhos que nunca fez para os filhos. Amava ficar na piscina de plástico com eles. Fazia tudo que eles queriam, pedia as comidas que gostavam... Era o típico pai com açúcar. Sempre falava do quanto era feliz por ter netos tão lindos.

Antes de partir, agradeceu a Deus pela família e disse o quanto amava a esposa, os filhos e os netos.

Cícero nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Cícero, Vilma Carla da Silva Santos Moscoso. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Lígia Franzin em 4 de abril de 2021.