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Cláudia Aparecida Machado de Amorim

1966 - 2021

Sua vocação era maternar: flores, filhos, amigos e alunos.

Mineira de Sete Lagoas, Cláudia Aparecida, nas palavras da filha Ana Cláudia, “era só amor”. Não importava se o carinho fosse dedicado aos filhos, aos amigos, aos alunos. “Percebi já depois da partida dela, que ‘maternar’ foi a vocação da minha mãe”, declara a filha.

Cláudia Aparecida é lembrada por colegas, familiares e amigos como quem acolhia, dava conselhos e espalhava amor. Filha mais velha, tinha uma relação de extrema cumplicidade com o irmão Rubens, de quem era a melhor amiga. Era Rubens quem a levava pra cima e pra baixo, quando ela queria implementar novidades no jardim. “Buscavam mudas, compravam vasos de plantas, iam até a roça de alguém buscar pedras de rio para enfeitar o jardim”, sorri, contando, a filha caçula Ana Cláudia, lembrando de uma das maiores paixões da mãe, as orquídeas e o seu quintal. “Tinha mais de 50 tipos da flor em casa e um jardim enorme, que ela cuidava com muito zelo. Aos domingos, acordava cedo, fazia um chá e lá ia cuidar do jardim”. Eram tantas e tão lindas as flores, que a filha fez doações muitos meses após a partida da mãe. “Ela tinha o dom das flores. Tudo que plantou floresceu com muito vigor e vida”, resume Ana Cláudia.

Cláudia Aparecida tinha uma relação muito próxima com todos, e o dia a dia com ela podia ser resumido pela leveza. No cotidiano, acordava cedo e pegava duas conduções até a escola na periferia, onde atuou por mais de quinze anos e sempre buscou ajudar como pode a comunidade. Orientadora e vice-diretora da Escola Estadual Apio Solon Cardoso, realizava projetos e organizava doações. À noite, dava aulas no curso de Magistério. Ana Cláudia conta que a mãe gostava muito de disciplinas relacionadas com as artes. E levava este interesse para a sala de aula. Utilizando diferentes materiais e matérias-primas, estimulava a criatividade dos alunos. Entre os “produtos” das aulas, depois expostos em mostras na escola, havia livro de cordel ilustrado com stencil de isopor e carvão, fantoches de garrafas pet, mandalas feitas a partir de sementes... “Além disso, ela pedia também para as alunas fazerem um livro da vida, como biografias, e dessa experiência surgiram muitas histórias bonitas, de superação”, diz, orgulhosa, a irmã de Silvio Junior, o primogênito de Cláudia Aparecida.

Com a família, não era diferente. “Seu amor era imenso. Sempre nos acompanhava, com orações, no portão, a cada despedida; sempre tinha um colo, uma palavra amiga e era dona de uma paciência invejável”, diz a filha. Ah, e se tinha uma época do ano que ela gostava, era o Natal! Amava organizar a celebração – em casa e na escola – e fazia questão da família reunida no dia 24. Nas comemorações da escola no Natal de 2021, na árvore que Cláudia Aparecida sempre montava, um pingente se destacou: uma foto da orientadora, vice-diretora, professora e amiga, e no verso as palavras “sempre estará entre nós”. “Minha mãe aproveitou a vida. Tocou em muitos corações. E ainda hoje toca”, finaliza Ana Cláudia.

Cláudia nasceu em Sete Lagoas (MG) e faleceu em Sete Lagoas (MG), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Cláudia, Ana Claudia de Amorim Fonseca. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2022.