1970 - 2021
Tinha uma presença solar, acolhedora, que transformava tudo ao seu redor.
Cláudia era uma pessoa alegre, empática, guerreira que gostava de ajudar todo mundo sempre com uma palavra amiga. Era esteio da família que, quando alguém precisava de ajuda, estava a postos, fosse para dar uma carona, fosse para prestar algum favor ou convidar pessoas queridas para um almoço. Por vezes, pensava mais nos outros do que em si, estendendo a mão além das suas possibilidades.
Era filha do Seu Francisco Eduardo, o “Chico Mecânico” e da Dona Izélia e, ela como esteio da família, cuidou deles até seu falecimento. Tinha um carinho especial pelo seu tio Humberto, irmão da sua mãe. Teve quatro irmãos, Erondina, Elane, Rostand e Eduardo e eles sempre a procuravam em busca de conselhos. Foi tia de Camilla, Danielle, Rafael, Sabrina e Maria Fernanda.
Ela nunca se casou, foi mãe de Emanuelle aos 15 anos de idade e, depois, de Samuell aos 32 anos. Como mãe era muito carinhosa, atenta aos desejos dos filhos e sempre os impulsionava a ir em frente em direção a seus sonhos.
A filha Emanuelle conta: “Ela nos deu estrada para correr e porto seguro para retornar. Tinha diálogo aberto, opinião própria, nunca nos julgava e nem aos outros. Equilibrada e com agilidade de pensamento, ponderava as situações e frequentemente nos convidava a refletir sobre os mais diversos ângulos antes de decidir sobre algo e a nos colocar do lugar dos outros. Estava sempre disposta a conversar e a conhecer coisas novas.”
“Minha mãe foi muitas, como toda mulher é! Eu enxergava nela uma mulher diferente, com mente aberta, sempre disposta a aprender. Extremamente sensível, enxergava as pessoas e os ambientes na sua mais pura essência. Ela era muito coração! Inteligente, possuía um pensamento ágil e era bastante resoluta em tudo o que se propunha a realizar. Paciente, escutava como poucos e conversar sobre quaisquer assuntos, característica que a tornava uma excelente negociadora.”
Ela queria ser avó, mas não chegou a ter netos e a filha acredita que ela seria uma ótima avó e conta que quando falavam sobre esse assunto, ela sempre dizia que buscaria os seus filhos para ficar com ela e Emanuelle se sente antecipadamente triste por não poder tê-la ao seu lado e contar com sua ajuda quando também se tornar mãe.
Além do sonho de ser avó, acalentava o sonho de ir para Nova York. Na verdade, ela queria mesmo era viver o sonho americano, ir para os Estados Unidos. Durante toda a vida, ela pensou nisso, por diversas vezes tentou realizar esse sonho e, nos últimos anos, esse desejo tinha se intensificado.
Por algum tempo foi comerciante. Primeiramente, teve lojas de roupas, depois teve uma lanchonete. Tornou-se catireira, uma pequena negociante que se dedicava à venda de produtos dos segmentos de vestuário e de comunicação.
Emanuelle conta que viveu muitas histórias marcantes com a mãe e destaca algumas delas: “Em meio a um dos momentos mais conturbados que vivemos juntas, quando nos reencontramos, imaginei que ela estaria desnorteada, mas não, encontrei uma mulher extremamente forte, mais bonita e confiante. O modo como ela lidava com as dificuldades era algo inspirador: em situações difíceis, ela florescia.”
“Minha mãe contava que certa vez, minha avó e ela estavam precisando de dinheiro, logo, resolveram fazer marmitas para vender. Entretanto, ao temperar a refeição, minha avó se confundiu e colocou canela ao invés de pimenta-do-reino. Então, elas acabaram perdendo toda a comida. Chorávamos de tanto rir quando contavam essa história. Para mim, é uma história muito marcante porque o rir da própria desventura, me ensina muito sobre ter leveza em momentos difíceis.”
Nas horas vagas, gostava de dirigir, ouvir música, assistir séries, ficar na praça, conversando com as pessoas, passeando e contemplando o movimento da cidade ou, então, comprando roupas e visitando parentes. Gostava também de fazer churrascos com a família e tinha como time preferido, o Atlético.
Algumas músicas da Marília Mendonça, do Belchior e da Madonna, fazem a filha e recordar dela por serem seus cantores preferidos, mas “...há uma canção chamada "Pavão Misterioso", interpretada por Ednardo, me faz senti-la por perto devido à sua passagem” e ela relembra:
“Pavão misterioso, pássaro formoso,
Tudo é mistério nesse teu voar,
me poupa do vexame de morrer tão moço
muita história ainda quero olhar”
Concluindo sua homenagem, Emanuelle diz: Conversávamos muito sobre as minhas vontades. Então, o ensinamento mais profundo que ela me deixou, foi sobre seguir os meus sonhos e batalhar para consegui-los, escutando apenas o meu coração. Te amo mãe. Pra sempre meu amorzinho.”
Claudia nasceu em Guanhães (MG) e faleceu em Guanhães (MG), aos 50 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Claudia, Emanuelle Pinheiro Pessoa Ferreira. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 27 de outubro de 2022.