Sobre o Inumeráveis

Claudio Henrique de Sousa Lima

1941 - 2020

Fortalecia-se na sua fé, contemplando as ondas do mar.

Desde criança, "Seu Henrique", achava-se o responsável pelos outros.

De família humilde, o menino tornou-se um homem esguio, magro e de porte atlético. Mais tarde, veio mesmo a se tornar um atleta, virou corredor maratonista. Tinha a coragem de correr em pleno sol do meio-dia, na areia fofa da Praia do Futuro, onde era bastante conhecido. Conhecido também ele foi em todas as seis cidades por onde morou com sua família. Devido ser da Academia, seu único trabalho, mudavam-se muito de cidade e viveram em várias capitais do Brasil.

Era reconhecido facilmente pelo seu jeito peculiar de correr, deixava as mãos soltas... sempre com seus shorts tradicionais de corrida, de boné ou com um pano amarrado na cabeça grisalha, corria todo dia, de 10 a 15 quilômetros, religiosamente.

Leitor fervoroso, principalmente de livros espíritas — religião que a maior parte da família seguia. Também mantinha o hábito da prece. Quantas vezes ele não era visto na janela, contemplando a paisagem do mar, onde sempre teve o privilégio de morar perto. Ali era o lugar preferido para fazer suas reflexões, tão constantes. Mas isso não quer dizer que ele era uma pessoa calma, pelo contrário, apesar de tudo isso, de correr, de meditar... ele era agitado demais.

Casado com a Dona Meire, eles tiveram três filhos. Apegados, pelos 47 anos de convivência, apesar das briguinhas do dia a dia, não se largavam. Além dos filhos, as netas Nicole e Clarinha, sua grande companheira, e os netos, Caleo e Maximus, tiveram um avô amoroso e disponível. "Meu pai era meu companheiro de corrida, de academia, de religião, esse era o tempo que a gente tinha de conversar sobre a vida e o momento de dar uns puxões de orelha em mim, se fosse necessário", conta Temio.

Sem vícios, não bebia há 40 anos, não fumava e não comia carne, mantinha o rosto alegre e sorrindo, por isso talvez, se dava bem com todo mundo.

Militar a vida inteira, oficial aposentado da força aérea, sua frase mais comum era "o trabalho dignifica o homem", e foi trabalhando, em várias frentes, como comerciante, como vendedor de imóveis ou em muitas outras como voluntário, que ele seguiu servindo. Era ainda monitor, numa escola cívico-militar, onde era querido e respeitado pelos jovens e adolescentes. Seu maior legado foi a constante preocupação com o próximo, o que sempre o manteve trabalhando em alguma instituição de causas sociais.

Bom ouvinte, sempre dava suas opiniões e conselhos quando era solicitado, sem nunca interromper ninguém, mas... não viesse falar de política, que esse assunto era delicado tratar com ele, porque defendia muito seu ponto de vista e até arrumava confusão por causa disso com a família e com os amigos.

Gostava de ouvir as músicas do Roberto Carlos, da época da Jovem Guarda, e também gostava de música romântica americana, língua que tentou muito aprender, mas não havia jeito de conseguir. Acabava pedindo ajuda para o filho, que falava inglês muito bem, para traduzir trechos das músicas de que gostava, isso lhe dava muito orgulho!

Família toda de servidores públicos e militares, ele e seus irmãos tinham muita preocupação em oferecer boa educação para os filhos, e foi muito rigoroso com isso. Ele viu os frutos renderem, pois, seus três filhos traçaram bons caminhos para trilhar.

Pena que era teimoso, por isso demorou 15 dias para procurar um médico quando sentiu os primeiros sintomas da Covid-19... achava que o que estava sentindo era apenas uma gripe, visto que tinha muita fé. Passou 50 dias lutando contra o vírus, como um verdadeiro touro, mas surpreendeu a todos os amigos e familiares quando não saiu da UTI.

Claudio nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Claudio, Temio Henrique Rocha Lima. Este texto foi apurado e escrito por Alessandra Capella Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 12 de julho de 2020.