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Cláudio Leal de Almeida

1944 - 2020

A formatura da sua neta conseguiu lhe tirar um sorriso; discreto, mas seu.

"Claudio,

Você se foi de repente, nem mesmo deu tempo de dizer: fica mais um pouco, é cedo, até breve...

Agora, fica a saudade, mas não o vazio da ausência, porque este não existe, está preenchido com muitas lembranças, e são tantas...

Doravante, o momento é recordar e esperar até o dia do reencontro na Casa do Pai. Enquanto esperamos, vamos recordar o irmão, o amigo, que também foi pai, assim como um filho exemplar.

Como filho, você foi o orgulho dos nossos pais e o companheiro fiel da nossa mãe, com quem conviveu alegrando seus dias e, sempre aos domingos, havia a certeza de que você estava presente... nunca faltou, era o encontro certo.

Conhecer a pessoa é saber como ele foi como filho, e se foi bom filho, sem dúvida alguma será um bom pai e bom em tudo. E assim você foi, bom filho e bom pai.

Como pai, sou testemunha da grandeza que você foi para a esposa, para os filhos e cada neto... Eles são felizes porque sabem a graça que foi para eles ter você como companheiro esteio da família, doando-se sempre com amor.

E quanto a nós, irmãos, só temos a agradecer a Deus pelo que você foi e pelo nosso convívio. Quantos risos, brincadeiras e alegrias você despertou em nós, e o retorno está aí, ao ver teus sobrinhos e sobrinhas inconsoláveis com tua partida.

De nossa infância, trago na lembrança belos momentos: ainda ouço o sino da Igreja de Santa Cecília de Braz de Pina reboar, porque os fazia entoarem belos acordes... são tantas coisas boas que vivemos, que não quero deixar que a tristeza da saudade venha a atrapalhar.

Quanto aos amigos, sei que foram muitos e tenho a certeza que você nunca guardou rancor de ninguém, apenas alegrias e belas amizades. Foi tão boa nossa convivência, que dela só posso dizer: valeu a pena, irmão e amigo.

Até breve e, adeus, muito obrigada pela vida e existência de Cláudio Leal de Almeida, que honrou seu batismo e foi fiel até o fim."

De sua irmã, Claudia Maria.

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Marido e pai amado. Deixou três filhos, quatro netos e seis irmãos.

Professor com licenciatura plena, ex-reitor (magnífico), advogado querido por todos. Pessoa alegre e bom de garfo! Animava a todos, adorava a vida.

"Hoje é um dia que nunca pensei que chegaria. Meu pai foi para a morada do Pai. Quando se tem a fortuna de ser filho da pessoa que, sem chance de errar, possuía uma quantidade infinita de predicados, que o fizeram ser tão espetacular.

Para quem não conheceu o meu pai, não tenho a pretensão de descrevê-lo em tão exíguo espaço pois, isso é uma tarefa impossível, mesmo que o fizesse em várias páginas, ou melhor, em diversos livros...

Meu pai foi o meu norte, meu maior exemplo de vida, meu maior amigo, meu maior incentivador, meu ídolo. A pessoa que mais me elogiou e, também a que mais se orgulhou de mim.

Me arrependo de não ter tê-lo visto mais vezes. Mesmo que muitos achassem estranho que ficássemos juntos todos os domingos.

Descrevo aqui alguns momentos que me trouxeram muita alegria: nossa viagem maravilhosa a Paris, que pude dar junto com a mamãe e meus filhos. A festa de fim de ano na minha casa, casa essa que você tanto gostava e sempre me dizia para nunca me desfazer dela. O aniversário de seu neto, também na casa que ficou tão vazia sem as suas visitas. A formatura da sua neta, que conseguiu tirar um sorriso, discreto, mas seu. As duas últimas lembranças são a nossa comemoração de todos os anos do seu aniversário de casamento, onde você sempre queria pastel de camarão. A outra, poucos dias antes de sua internação, quando fui te buscar, junto com a mamãe, para vacinar. Poucos dias após o meu aniversário, que comemoramos separados, mas comendo o camarão que você descascou.

Por último, descrevo aqui a dedicatória do livro que te dei no teu aniversário, em 15 de fevereiro, presente que mais te alegrava. Estava separado para você logo ler, pois eu disse que leria só depois de você. Aqui o reproduzo:

Meu querido pai, exemplo de retidão moral. Pai amoroso, por vezes brigão. Portador de um espírito ainda no início da infância e de uma sede de saber, que sei, nunca se dará por satisfeita.

Te admiro, te amo e rogo que ainda tenhamos muitos vinhos, charutos, viagens, conversas - digo, discussões - sociológicas, filosóficas, históricas ou por assuntos mais mundanos.

Te amo e todos os dias agradeço ao Pai a honra de ser seu filho.“

De seu filho, Paulinho.

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Ele entendia várias culturas diferentes, entendia outras religiões diferentes. Ele era um brincalhão sério.

De sua cunhada, Takako Yamashita

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Tio querido e amado. Quantas risadas tirava de nós quando éramos crianças! Suas caretas... suas histórias engraçadas... como aquela de quando encontrava o Claudinho do outro lado da avenida! Clássica! Não tinha um Natal em que não nos acabávamos de rir.

Tio amado, amigo, professor, colega. As ideias que trocamos me ajudaram tantas vezes a resolver aquelas situações inéditas e inesperadas que o Direito, tão amado por ti, nos traz a todo momento. O senhor estava sempre disposto a me ajudar todas as vezes em que eu ligava.

As suas explicações sobre a vida, dentro da ciência e da filosofia, que o senhor tanto conhecia e que em tantas conversas com a mamãe faziam meus olhos brilharem! Eu ficava hipnotizada!
Quanto conhecimento! Quando ouvia o senhor conversando, pensava que em uma vida inteira, eu nunca teria a metade do seu saber... hoje eu tenho certeza disso!

Não existem palavras que possam mensurar as saudades que ficarão em nossos corações, a falta que o senhor fará! Se eu soubesse que seria a última vez que te veria, no dia do meu aniversário e da tia Suzete, ah, se eu soubesse... teria te abraçado mais, teria pedido para o senhor contar novamente suas histórias... e suas gracinhas... e não teria ido embora!

E se eu pudesse, ah, se eu pudesse... Não deixaria o senhor partir, mas chegou sua hora, e agora o céu se alegra com a sua presença e com a sua alegria contagiante!

Deus está contigo!
Contudo, sempre ficarão as saudades!
Obrigada por tudo!
O senhor sempre estará presente no meu coração!

De sua sobrinha, Suzana Almeida.

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"Tio querido, amado, atencioso, companheiro". Assim a sobrinha Simone define Cláudio. Os encontros com ele eram sempre alegres, leves, repletos de histórias, sorrisos, drinks e boas leituras. Cumpriu sua linda missão na terra e só deixou ternas e eternas lembranças.

De sua sobrinha, Simone.

Cláudio nasceu no Rio de Janeiro e faleceu no Rio de Janeiro, aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

História revisada por Rayane Urani, a partir do testemunho enviado por familiares , em 10 de dezembro de 2020.