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Claudomiro Rodrigues

1966 - 2020

Sua alegria era ligar para a Elaine e perguntar: “Como é que tá o tempo aí em São Paulo?”

Claudomiro teve uma infância difícil. Teve que começar a trabalhar muito cedo, com seu pai e irmãos. Em sua casa, moravam doze pessoas.

Mais velho, trabalhou em uma usina de cana-de-açúcar e álcool. Conservava no peito, como uma das maiores virtudes, a amizade com o primo Marcos.

Cozinhava muito bem, parecia até um cozinheiro profissional. Entre suas especialidades estava a famosa farofa de feijão-verde com calabresa e bacon, seu churrasco e o arroz carreteiro ficarão sempre na memória daqueles que puderam partilhar a vida com Claudomiro.

Miro adorava música caipira, jamais dispensava um modão de viola.

Nutria um amor maternal por tia Nena, mulher que lhe prestou profundo apoio desde que sua mãe faleceu. Ele costumava dizer: “Deus levou minha mãe, mas deixou tia Nena para amenizar a dor”. Transformou em hábito diário a visita à casa da tia.

Mirão, como também era conhecido, era apaixonado por maionese de batatas. Sem dúvida, era seu prato favorito. Principalmente a maionese que tia Nena fazia.

Era um homem muito humilde e simples, sem maldade no coração. Alegre e piadista, transformava qualquer situação cotidiana em piada. Tinha a resposta para tudo na ponta da língua.

Um dia, a prima Fernanda fez um pudim que ficou horrível, “nem cachorro comia”, disse ela. Para exercer sua gentileza, Claudomiro disse que estava muito bonito e gostoso, e tudo acabou em risadas.

E, no coração da prima Fernanda, ficará sempre o diálogo rotineiro:

“-Ô gorda!
-Quem é?
-O gordo!”

Claudomiro nasceu em Ribeirão dos Índios (SP) e faleceu em Ribeirão dos Índios (SP), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela prima de Claudomiro, Márcia Fernanda Rodrigues. Este texto foi apurado e escrito por Ygor Expedito Gonçalves, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 31 de julho de 2020.