1940 - 2020
Ele tinha o dom da música e o de ser feliz. Para ele, tudo era motivo pra tirar a viola da capa e tocar.
Vindo da cidadezinha mineira de Açucena, o ainda moleque Cycero chegou a Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, levando consigo muitos sonhos, entre eles o de ser jogador de futebol.
Porém, a realidade da vida fez com que ele tivesse que ajudar o irmão mais velho no trabalho. Fabricavam linguiças e vendiam a produção nas quitandas, armazéns e mercadinhos da região.
Numa dessas idas aos estabelecimentos, Cycero conheceu o grande amor da sua vida. Jogava bilhetinhos para Marilene, a filha do dono da quitanda, e assim, conquistou a linda moça de olhos azuis, com ela se casou e teve quatro filhos.
Marido dedicado, pai amoroso e avô brincalhão, tinha o dom de levar alegria por onde passava. Trabalhava dirigindo um caminhão que coletava ossos nos açougues. Trabalhou muito, mesmo após a aposentadoria, sempre no mesmo emprego, dirigindo o bom e velho caminhão de ossos.
Nos finais de semana, gostava de uma boa farra. Violeiro autodidata desde os 6 anos, tocava vários instrumentos: bateria, contrabaixo, teclado, sanfona, viola, violão, cavaquinho e muito mais. Tocava nos bailões e, nas horas vagas, dançava na noite com sua amada. "Porque ela não era boba nem nada, ia vigiar a preciosidade dela, porque ele era muito bonitão", conta a filha Janaína.
Criou e deu estudo aos filhos, amava incondicionalmente a família e tinha o dom de ser feliz; pra ele tudo era bom, não reclamava de nada, e foi levando a vida com muito bom humor. Em 2016, o casal completou cinco décadas de casamento: as bodas de ouro! Foi feita uma grande festa, afinal, Cycero era muito festeiro e para ele tudo era motivo de alegria.
Apaixonado pela terra, gostava de plantar e de ter o lar "cheio de verde". Era rodeado de amigos e a casa nunca estava vazia. Ninguém o conhecia pelo nome, seu sobrenome virou apelido, e o "Coelho" reinou por grande parte da sua vida.
Era o Papai Noel oficial da família; chegava no seu "Fuscão" azul, e descia com o saco nas costas distribuindo os brinquedos. "Ah, que saudade dessa época! Tudo era motivo pra ele pegar a viola e tocar uma boa música. Tirou a carteirinha de músico e tinha orgulho de mostrá-la pra todo mundo, mesmo já estando toda amarelada pelo tempo", relembra Janaína.
O mesmo amor que nutria pela música, também sentia pela família. Para ele não tinha tempo ruim, ele topava tudo! Ensinou os filhos a serem pessoas honradas e honestas e deixou um legado de alegria para todos. "Saudade eterna do meu velho", conclui a filha.
Cycero nasceu em Guanhães (MG) e faleceu em Cachoeiro de Itapemirim (ES), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Cycero, Janaína Temporim Coelho Vianna. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 23 de fevereiro de 2021.