1949 - 2020
Dadá, a dona do melhor rubacão de João Pessoa.
Viver em união e confraternizar com a família era motivo de alegria para Damares, que aproveitava as reuniões, comemorações e festas natalinas para distribuir amor em forma de comida.
Filha mais velha de uma família de nove, Dadá, como era apelidada pela mãe, nasceu na cidade de Cajazeiras, no interior da Paraíba; mas foi a capital João Pessoa onde, a partir dos seus 10 anos, cresceu e viveu. A infância da pequenina foi como da maioria das crianças de sua época, com muitas brincadeiras na rua; contudo era uma menina considerada quieta devido a rigidez de seu pai. A família morava perto do Rio Jaguaribe e foi brincando, tomando banho e lavando roupas para ajudar a mãe, que passou grandes fases de sua vida.
Casou-se com Iranildo Alves de Freitas em uma união que perdurou por cinquenta e dois anos. Os dois aposentados - que moravam sozinhos faziam apenas cinco anos -, dividiam as tarefas de casa e do trabalho. "Ele costuma se queixar de saudades pela falta da companheira de tantos anos", conta a sobrinha Juliana. Durante determinado tempo em que o esposo trabalhou fora, quando chegava de suas viagens fazia questão de ajudá-la em seu mercadinho - apelidado pelos dois como “venda” -, que ficava na frente da casa, onde a vizinhança se fornecia quando faltava algo. Mãe pela primeira vez aos 19, Damares teve quatro filhos: Irenilda, Irenilson, Ildevandro e Henrique. Avó de sete netos que adorava cuidar, com a mais velha de 29 anos e o mais novo com 5, filho do filho caçula. Era uma rotina receber a visita do netinho aos sábados para ficar brincando na garagem da casa. Uma grande alegria para ela era a relação com os netos, que sempre foi de muito amor por todos.
Dadá possuía uma barraca no Mercado Central de João Pessoa. Com uma comida muito apreciada, além do tempero, sua simpatia também conquistava a freguesia. Quase todos os comerciantes se alimentavam lá. Vendia em sua barraquinha: arroz, feijão, macarrão, macaxeira e carnes. E se tinha um prato que merecia destaque era o rubacão - uma espécie de baião de dois. Aos sábados, era dia de dedicar-se para as vendas de cachorro-quente que tinham uma batata palha deliciosa, dos quais eram para lá de especial! Dadá chegou a trabalhar em um hospital, mas foi como comerciante que se realizou.
Matriarca da família, uma mulher forte e sempre decidida; queria o bem de todos! Querida por familiares e vizinhos sempre foi muito prestativa, desencadeando admiração por todos devido ao seu cuidado e disposição para ajudar quem precisasse. Juliana recorda um episódio engraçado com a tia: "Sempre passávamos o Natal em família, todos reunidos na casa de algum familiar. Um ano fizemos um "amigo da onça", e pregamos uma brincadeira nela e no esposo. Fingimos realizar um sorteio, onde só tinha o nome deles no papel. Eles chegaram a ganhar até um penico de presente! Foi uma noite muito divertida e de muitas risadas!”. Dadá cozinhava, brincava, conversava, puxava oração e se divertia bastante com muitas gargalhadas.
Dos seus gostos, caminhar logo cedo era um dos que mais gostava. Passear, parar para chupar mangas maduras, ir à igreja nas quartas à tarde e aos domingos de manhã, visitar os filhos, netos e familiares, também entravam na lista dos preferidos. Quando era mais jovem ia todos os fins de semana para a praia; sua favorita era a Praia do Seixas, em João Pessoa. Já nas viagens para visitar as irmãs que moravam em São Paulo apreciava dar algumas voltas no centro da cidade. A sobrinha lembra de uma viagem em família que fizeram para a cidade de Itabirito, em Minas Gerais. “Fomos eu, ela, o esposo, meu pai, minha mãe, meu irmão e minha irmã. Passamos 3 dias de ida em uma van e 4 dias de volta em um ônibus, dormindo e comendo em pousadas e restaurantes na beira da estrada. Comemoramos meu aniversário nessa viagem e ela comprou um bolo para mim. Ela era minha madrinha!”, e complementa: "Uma relação de cumplicidade! Nós saíamos juntas para resolver os compromissos; e quando ela precisava de alguma coisa vinha falar comigo, seja para viajar, sair, algo que envolvesse internet ou tecnologia. Mas também gostávamos de ir ao shopping para passear, lanchar e fazer compras. Ela gostava muito da minha opinião e da minha mãe".
Quando ia ao shopping, Damares sempre lembrava de algo de casa que estava precisando; objetos de decoração, colcha de cama, mesa, panelas, tudo para deixar organizado e bonito. Gostava da casa limpa e arrumada! Tinha também o hábito de, ao fim da tarde, sentar na calçada de casa para jogar conversa fora com os amigos e familiares. Era muito comunicativa e logo vários vizinhos e amigos chegavam para a prosa. Falavam de tudo: vida, amigos, notícias da cidade. Em família, gostava de se inteirar nos últimos acontecidos para alegrar as conversas.
"Nossa relação era de mãe e filha, éramos muito próximas. Eu tenho o jeito dela, e até dizia que era filha de Dadá e não da minha mãe", comenta Juliana. A sobrinha e afilhada, que se formou em Direito, ganhou um anel de formatura da tia; e com carinho, lembra dos conselhos recebidos: "Não parar de estudar nunca e ser uma pessoa que sabe perdoar, ajudar, ser bondosa, cuidadosa. Que os ensinamentos de Dadá, sua alegria e amor estejam presentes nos seus e em todos que conheçam sua linda e única história de vida!".
Damares nasceu em Cajazeiras (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Damares, Juliana Rodrigues de Albuquerque. Este texto foi apurado e escrito por , revisado por Luana da Silva e moderado por Rayane Urani em 8 de janeiro de 2022.