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Damião Reinaldo de Oliveira

1947 - 2020

As estradas da vida o levavam sempre de volta ao lar, mas conseguiu deixar um lindo legado e exemplos eternos.

Damião trabalhou desde cedo para ajudar a família. Era um dos mais novos, dentre os seus 18 irmãos, o décimo quinto.

Aos 18, entrou para o exército, onde serviu por cinco anos. Casou-se bem novo, aos 20. Sua primogênita, Maria Lúcia, nasceu dois anos depois.

Quando sua filha tinha 1 ano, ele terminou o serviço militar e mudou-se para São Paulo. Começou então a trabalhar como caminhoneiro em um frigorífico, onde seguiu até se aposentar.

Passou a vida sem saber ler ou escrever... Na verdade, com muito esforço, decorava algumas palavras. Mas, nada disso o impedia de ser, por anos, o melhor motorista por onde passou. Isso, em uma época sem GPS, usando apenas o mapa e as orientações dos colegas de trabalho, para enfrentar as aglomeradas ruas de São Paulo e do país. Ele adorava a estrada e percorreu bastante, quase todas, por esse Brasil a fora.

Mesmo não tendo essa oportunidade na vida, e talvez, principalmente por isso, nunca deixou de incentivar seus filhos a estudarem. Maria é pedagoga e Danilo matemático. Seus filhos ficam com o legado: "O pai sempre ensinou que, nesta vida, a única coisa que ninguém pode nos tirar é o que aprendemos e como nos portamos."

Sempre teve um porte atlético, esbanjando saúde e adorava forró, cerveja e churrasco. Estava sempre rodeado de amigos, pois era muito querido e carismático. O tipo de pessoa disposta a ajudar quem precisasse, o tempo todo.

Mas a maior paixão era dirigir! Tanto que, mesmo depois de aposentado, ainda trabalhou no ramo, seja com uma perua ou uma picape.

Aos 35 anos, Damião separou-se e aos 38 conheceu a sua segunda esposa, com quem teve seu segundo filho, Danilo, dois anos depois. Após 20 anos de casamento, separou-se novamente e, dessa vez, retornou para seu estado natal, que tanto amava. Lá, passou os últimos anos de trabalho, com cargas de frete, na cidade de Extremoz, no Rio Grande do Norte.

Foi nessa fase, que sofreu um descolamento na retina e passou por uma cirurgia nos olhos. "Então, minha irmã e eu o convencemos a voltar para São Paulo. Ele passou a morar comigo e com a neta de 7 anos, Luna, a qual ele chamava de 'professorinha' e fazia questão de mimar todos os dias. Luna chegava da escola e passava a tarde ensinando ao avô tudo o que tinha aprendido", conta Danilo.

Devoto de Nossa Senhora Aparecida, sempre ia à Basílica enquanto esteve em São Paulo. Mas, segundo suas próprias palavras: "em São Paulo não se vivia, apenas sobrevivia". Então, não aguentou nem um ano e, novamente, voltou para o Rio Grande do Norte, de onde não mais retornou e não mais o vimos.

Passou uma semana indo aos hospitais e voltando, com diagnósticos diferentes... Diabetes, virose, gripe... Até que passou muito mal e já bastante debilitado, teve que ser levado de ambulância ao hospital, partindo em uma semana.

"Viveu com muito amor sua breve vida. Partiu muito cedo, deixando sua neta sem seu aluno mais atencioso. Amou a vida como nenhum outro. Tinha a alma mais jovem que a de seus filhos. Felicidade... assim quero lembrar do meu pai. Amor eterno!", despede-se Danilo.

Damião nasceu em São Tomé (RN) e faleceu em Ceará Mirim (RN), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos filhos de Damião, Danilo Reinaldo Lima de Oliveira e Maria Lúcia de Oliveira Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de julho de 2020.