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Dilma Batista dos Santos

1959 - 2020

Nunca deixou a fome vencer ou a tristeza fazer parte. Rebatia as dificuldades da vida com um sorriso no rosto.

A história de Dilminha é de lutas e vitórias.

Como grande parte do povo brasileiro, teve uma vida que nunca foi fácil. Saiu de Minas Gerais em direção a São Paulo muito nova, com dois filhos pequenos e nenhuma certeza, para tentar uma vida melhor.

Em solo paulista, conseguiu trabalho como empregada doméstica. Lá, conheceu seu marido e com ele mais cinco filhos, sendo que três eram irmãos dele.

Para colocar ordem em toda a família, o palavrão saía naturalmente. Um respeito imposto que, com o tempo, foi traduzido em uma sabedoria que diploma nenhum conseguiria descrever.

Para prover o sustento da família, Dilma aprendeu a fazer sorvete para vender. Dedicada que era, se virava nos 30. Foram muitas as noites em claro, para que no dia seguinte os clientes fossem atendidos da melhor maneira possível.

Ao lado do marido, batalhou todos os dias para que nada faltasse na casa. A família costumava dizer que ela era "A Camisa 10". Dilma jamais deixou a fome vencer e a tristeza nunca fez parte de sua vida. As dificuldades eram rebatidas com cantorias e um sorriso no rosto.

Uma de suas paixões era cozinhar. Segundo os filhos, a comida dela era a melhor: "imbatível". Trabalhou como cozinheira e amava fazer o almoço para o batalhão de pessoas que frequentava a casa. Era gente comendo até no quintal, em qualquer dia da semana.

Nesses almoços, tanto filhos quanto netos ouviam as histórias que deixavam claro que o caminho do bem e a ajuda ao próximo eram coisas primordiais na vida.

Não precisava ser religioso para saber e ter a certeza que ela era uma mulher de fé. Uma fé traduzida na boa criação da família e num grande legado que, quem foi esperto, absorveu ao máximo.

Festa e dança também eram com ela. Sempre se envolvia nos forrós do bairro, passinho do flashback e festa junina. Mas tudo sem foto e sem holofote. Ela curtia o bastidor, nunca se mostrou, na linguagem popular, nunca “quis se aparecer”.

No bairro, na família e entre os amigos ela era unanimidade. Querida por todos. No Natal, a casa ficava cheia de gente e de música. Dilminha estava sempre envolvida em tudo. E se, por acaso, ela não se envolvia, alguém a chamava.

Dilma era mãe, conselheira, psicóloga sem diploma, nutricionista sem tabela de calorias. Tinha incontáveis profissões e qualidades.

A mulher que apagou a palavra "ingratidão" do dicionário, não gostava de ser chamada de Dona Dilma. Era apenas Dilma, jovem, sorridente e sempre fazendo seu melhor.

E, claro, sem deixar de mencionar a música que ela, quase aos gritos, gostava de cantar: “Viver, e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar... e cantar... a beleza de ser um eterno aprendiz”.

Dilma lutou e venceu ao deixar ensinamentos para filhos e netos. Sua lição de vida ─ de sorrir e agradecer sempre, por mais difícil que esteja a situação ─, ficará viva na memória dos seus, assim como sua alegria.

Dilma nasceu em Malacacheta (MG) e faleceu em Guarulhos (SP), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e pelo amigo de Dilma, Mônica Dom Pedro e Carlos Silva. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Larissa Paludo, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 1 de janeiro de 2021.