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Dina Márcia dos Santos Silva

1934 - 2020

Tinha mãos e talento para os pães que cheiravam pela casa e os doces maravilhosos que traziam seus filhos e netos para perto dela.

Mãe de 10 filhos, Dina, Ondina como a chamavam, cumpriu a maior e mais importante missão que lhe foi conferida: criar com amor e dedicação seus rebentos. “Viveu para os filhos, para vê-los bem”, conta a filha Jucimara.

Sempre disposta, sua energia era tamanha que ainda dançava nos bailes da terceira idade que frequentava. Sempre gostou de dançar. Talvez fosse sua melhor hora para deixar o corpo falar da alegria e do amor pela vida que a moviam desde sempre.

Casada com um caminhoneiro que vivia nas estradas, Dina criou seus filhos muitas vezes sozinha, “ela cuidou de nós bravamente, vencia tudo o que vinha de obstáculos”, diz Jucimara lembrando também do pai já falecido. Dina, viúva, teve ainda a chance de conhecer um outro amor que também faleceu.

Mesmo passando por alguns problemas muito graves de saúde e internações que a debilitaram, “nunca desistiu, nunca se entregou, nunca vi tanta luta em uma pessoa”, continua a filha.

Sua casa e sua família eram sua vida. Dina era cozinheira de mão cheia e adorava ver a família em torno da mesa comendo seu “risoto maravilhoso ou seu pudim, o melhor do mundo!”, conta Jucimara.

Tinha as mãos e o talento para os pães que cheiravam pela casa e traziam seus filhos e netos para pertinho dela. Sempre quis assim. Os doces que fazia com capricho, também estavam na categoria dos melhores aglutinadores de afetos da família. A distribuição de amor e carinho sempre foi farta e cada vez mais. Tinha 23 netos e 13 bisnetos, e “queria todos ao seu redor”, diz Jucimara.

Perfeita e caprichosa em tudo o que fazia, Jacimara diz que a mãe foi um exemplo para ela. No trato da casa, “o pano de chão de tão branco, confundia com o pano de prato da cozinha”. No trato com as pessoas “ela me ensinou a amar e ajudar o próximo, com ela aprendi o significado da palavra amor”. Era devota de Nossa Senhora de Fátima e rezava todos os dias.

Dina era também vaidosa, andava sempre cheirosa. Gostava muito de cantar e era apaixonada pela música do Teodoro Sampaio: “Êta mulher chorona, chora feito uma sanfona, arruma as malas diz que vai embora, dali a pouco se arrepende e chora. Chora de amor, chora de paixão.” Conta Jucimara que os filhos sempre tocavam esta música para ela e que sua alegria não tinha fim.

Dina adorava flores, de todo tipo, e no seu aniversário quando ganhava de presente um buquê, “tudo era beleza, tudo era lindo, tudo era maravilhoso”, lembra Jucimara da sua mãe em estado de graça.

Muitas histórias poderiam ser contadas sobre essa mulher especial, mas elas não caberiam numa só despedida.

“A falta que ela faz é imensa, há uma dor que insiste em não passar. Eu sempre disse a ela que a amava além da vida. Mãe, te amo e te amarei para sempre! Até um dia, que te encontrarei.” Despede-se Jucimara.

Dina nasceu em Santa Barbara do Sul (RS) e faleceu em Passo Fundo (RS), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Dina, Jucimara da Silva Tomazi. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Míriam Ramalho, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 14 de março de 2021.