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Diomar Rocha Carneiro

1957 - 2020

Passava as tardes com a filha, sentados na rede, cantando hinos da igreja ou músicas da dupla Milionário e José Rico.

Diomar teve uma infância difícil. Por ser o caçula da família ganhava menos pelo trabalho na roça. E apesar de ser uma criança estudiosa, e até mais avançada na escola do que os irmãos mais velhos, precisou deixar a 4ª série para trabalhar. Ele amava matemática.

Aos 18 anos foi para Brasília, onde trabalhou como zelador de prédio e ainda lavava carros nos dias de folga. Foram muitos anos sem férias, até que passou num concurso público estudando com livros que encontrou no lixo.

Casou-se, teve um filho e ficou viúvo. Nessa época, Diomar perdeu tudo, menos a fé. E foi com fé que se reergueu e conquistou o dobro do que possuía antes.

"Meu pai só tinha meu irmão de filho, mas sempre sonhou em ter uma menininha. E então treze anos depois eu nasci, fruto de um relacionamento curto”, conta a filha Sara, e acrescenta: “Ele pegou minha guarda quando eu estava com 1 ano e seis meses, casou-se com minha madrasta, que eu tenho como mãe, e com quem ele ficou até seu último dia de vida."

Além da fé, a sensibilidade e o choro fácil marcavam a personalidade de Diomar. Se ficasse triste ou magoado, ele chorava; e se emocionava ao falar da própria história de vida. De tão sensível, era preciso medir as palavras para falar com ele, pois tudo o que se dizia tinha um peso enorme, fosse positivo ou negativo.

Sara lembra-se bem de quando Diomar parou de fumar: foi ao flagrar o filho com um cigarro na boca. Ao ser repreendido pelo pai, o caçula questionou: “Se é errado, por que o senhor fuma?” Na mesma hora ele amassou a carteira de cigarros e nunca mais fumou.

Aos risos, ela diz que o pai fazia jus ao signo dele, câncer. Em seguida, muito emocionada, complementa: "Ele era tudo pra mim, minha base. Foi e sempre será o meu maior orgulho e inspiração, um pai e um ser humano incrível, que me ensinou que para tudo na vida devemos dar glória a Deus.”

Diomar ainda merece ser lembrado como um homem justo, correto, trabalhador e esforçado, tanto que até faculdade começou, aos 62 anos, mas não pôde concluir devido a problemas na própria instituição de ensino.

Por fim, Sara revela que, além das brincadeiras, das besteiras que falavam, a memória preferida são as tardes que passavam juntos sentados na rede, cantando hinos da igreja ou músicas da dupla Milionário e José Rico, incluindo o dia em que a rede se rompeu com o peso dos dois.

Diomar nasceu em Itacajá (TO) e faleceu em Santa Maria (DF), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Diomar, Sara de Oliveira Carneiro. Este tributo foi apurado por Sabrina Alecrim Borsatti, editado por Mariana Quartucci, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 3 de agosto de 2021.