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Divina Aparecida da Silva Alves

1973 - 2020

Quando foi pela primeira vez ao teatro, teve um ataque de risos ao ver um ator seminu no palco.

Divina era animada, extrovertida e tinha frequentes crises de riso. Dona de casa, o seu maior prazer estava em reunir a família para grandes almoços para os quais preparava alimentos saborosos. A família era a sua paixão - e não apenas o núcleo familiar de laços primários. Seu amor pelo próximo fez com que ela participasse de projetos voluntários que doavam cestas básicas a pessoas em situação de vulnerabilidade devido à pandemia. Doava-se e preocupava-se com todos à sua volta.

A afilhada Danniele, que a chamava de Tia Divina, conta que esse nome fora dado à madrinha em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. "Sempre muito religiosa, ela fazia parte da Capela São Francisco, e lá sempre ajudava. Esforçava-se na busca de arrecadações para melhoria da capela que frequentávamos. E, caso fosse necessário, mobilizava-se para ajudar outras capelas também. Muitos projetos beneficentes surgiam e ela se envolvia em todos que podia."

Foi casada por vinte e sete anos com Malebranche, seu amor e companheiro. Teve três filhos pelos quais tudo fazia: Bruna, Rafaela e Gabriel. Ela mantinha uma relação excelente com seu marido, e faleceu duas semanas antes de do aniversário de casamento. Ambos eram "perfeitos" juntos.

Segundo a filha Bruna, havia uma importante conexão entre ela e sua mãe: "Sabíamos nos comunicar só de olhar uma para a outra. Tínhamos uma sintonia linda conhecida por todos. Conversávamos sobre tudo, tamanha era a nossa cumplicidade. Sou grata a Deus por ter me dado uma mãe tão maravilhosa. Uma mãe sábia, carinhosa, atenciosa. Costumo dizer que ela era uma Santa, seu coração era puro."

Ir até a casa de Divina era vivenciar momentos especiais: ela amava cozinhar! Preparava para todos o bife acebolado, e o próprio bife, ela preparava de forma simples, porém maravilhoso, suculento e de sabor inigualável. Não havia quem não amasse aquele modo de preparo. "Preparávamos o almoço ou a janta e víamos fotografias...", conta a filha.

Bruna preparou uma carta que foi lida na missa de sétimo dia do falecimento de sua mãe:

"Mãezinha, sua energia, seu amor, sua risada e todas as incríveis memórias estão aqui comigo. Você é incomparável! E não há nada que eu ame mais nessa vida que ser sua filha. Nada! Cada momento juntas foi de imensa felicidade. Você é meu orgulho. Sempre foi uma mulher guerreira, mãe presente, esposa dedicada, você foi tudo. Tudo! Seu coração puro como o de uma criança, seu abraço caloroso, seu colo e sua alegria são o que eu mais sinto falta. Vivemos momentos únicos, sentimos coisas extraordinárias e, juntas, fizemos coisas impossíveis de se repetir. Agradeço a sua companhia em todos os momentos, por tudo que me ensinou e pelo que aprendemos juntas. Sou uma pessoa melhor por sua causa. Meus filhos saberão o quanto a avó deles foi uma pessoa extraordinária. Sempre disse que você é perfeita, e não houve um dia que deixei de agradecer por Deus ter me presenteado você como mãe. Sentirei falta de nossas conversas, das ligações telefônicas diárias, do modo como compartilhávamos tudo uma com a outra. Você foi a minha melhor amiga. Nos entendíamos só com o olhar. Peço a Deus força para lhe deixar partir, pois dizer adeus parece impossível. Não sei como viverei sem você, mãezinha. Quanto amor você levou, quanto você deixou. Te amarei para sempre."

Divina nasceu em Jussara (GO) e faleceu em Brasília (DF), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e afilhada de Divina, Bruna Samara da Silva Alves e Danniele Andrade de Amorim Gadelha. Este tributo foi apurado por Saory Miyakawa Morais, editado por Ricardo Henrique Ferreira, revisado por Elias Lascoski e moderado por Rayane Urani em 30 de novembro de 2021.