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Divino Euripedes da Silva

1963 - 2020

Quem via aquele homem baixinho na estatura, não imaginava quão grandes eram seu coração e sua generosidade.

Divino Euripedes foi um homem de vida simples, que espalhava alegria por onde passava, e que era amado e admirado por todos que o conheciam.

Gostava demais dos animais, “dos cachorrinhos dele”, das músicas sertanejas antigas, do Flamengo, mas com certeza seus grandes amores foram os filhos, Marcos e Gean (in memoriam).

Trabalhador rural, guardava consigo o sonho de vê-los estudando, cursando uma universidade, tendo acesso a uma boa profissão, para que não precisassem passar pelas dificuldades do trabalho braçal e da vida no campo, como a que dividia com Marina, sua esposa.

Na adolescência, Marcos e Gean trabalharam como garçons em um restaurante da cidade. Divino, que então trabalhava na fazenda, não saía para a lida enquanto os filhos não chegassem, apenas pelo gosto de poder conversar com eles e de recebê-los com um baita sorriso no rosto.

O tempo passou e Marcos realizou o sonho do pai. Hoje, advogado, casado, não esquece por um só dia que suas realizações foram possíveis graças aos ensinamentos e ao esforço do pai, que fazia questão, fizesse chuva ou sol, de sair de casa e ir até a faculdade só para olhar o filho, admirado.

Assim foi Divino Euripedes. Quem via aquele homem baixinho na estatura, não era capaz de imaginar o tamanho de seu coração e de sua generosidade.

“Certa vez, um carro que transportava uma família viajante quebrou na estrada, perto da fazenda onde meu pai morava. Vendo a cena, meu pai se dirigiu a eles e, percebendo o desespero, lhes ofereceu ajuda. Acabou por abrigar a família por quinze dias em sua casa, até que o carro fosse arrumado, dando-lhes abrigo, comida, roupas, mesmo vivendo com pouco mais de um salário mínimo”, relembra Marcos, orgulhoso do ser humano extraordinário que foi Divino Euripedes.

Há vários anos Marcos mora fora do Brasil, mas quem pensa que a distância foi capaz de afastar pai e filho, engana-se: desde o primeiro dia, eles se falaram todos os dias, sem exceção.

“Ele era a luz que iluminava a vida de todos ao seu redor. Pai, amigo, esposo, companheiro, deixará saudades eternas em todos os que tiveram a dádiva de conviver com meu amado pai”, conta Marcos, que sente saudade e a dor da ausência do telefone que nunca mais tocou na hora da novela e sempre tinha uma voz ao fundo dizendo: “E aí, meu filhão, papai estava com saudade”.

Ainda que um milhão de palavras não sejam suficientes para expressar o amor que Divino emanava, Marcos faz questão de manter viva a memória do pai, um homem generoso, de coração bom, que colocava o próximo, por vezes, até à frente de si mesmo.

Divino nasceu em Pontalina (GO) e faleceu em Itumbiara (GO), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Divino, Marcos Vinicius Lopes da Silva. Este tributo foi apurado por Lila Gmeiner e Maria Alice Freire, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 29 de dezembro de 2020.