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Domingos Paulo Serejo

1947 - 2021

Confundia o nome dos netos, só não errava aquele batizado com o mesmo nome que o seu.

Nascido em Anajatuba, Maranhão, casou-se jovem aos 16 anos com Maria. Criou sete filhos sendo três biológicos. Procurando melhores condições de vida, mudou-se com a família para a Cidade de Santarém, no Pará, na época da exploração do ouro.

O tempo passou, os filhos cresceram e os netos vieram. Ficou viúvo de Maria e casou-se novamente com Ana Rita. Ele sempre confundia o nome dos netos ou os chamava por apelidos: Sílvia era chamada de "aquela mais doentinha"; Gabriela era a "Bibi"; Ana Beatriz a "Menina Preta"; O filho Silvino que também era maranhense, ele chamava de "Cearense" e o neto João Paulo, que leva um de seus nomes era o único que tinha seu nome lembrado.

Trabalhava como agricultor e acordava cedo. Como torcedor do Vasco, era muito aperreado pelos netos que viviam dizendo que o Flamengo era um Time muito melhor. Ele não era muito de cantar, mas quando o fazia, surpreendia com uma voz tranquila e agradável aos ouvidos.

Quando ia para a cidade não gostava de ficar quieto em casa. Saía cedo e, às vezes, só chegava de tarde, muitas vezes trazendo pão, que ele gostava muito. Assim como apreciava comer frango assado, que comprava na venda de um conhecido.

À noite habitualmente gostava de assistir filmes de ação ou como ele chamava, "filme de porrada". Os netos falavam: "Vô, vamos assistir filme de romance? E ele respondia: "Que romance, menina! Eu quero "filme de porrada" e ele só gostava daqueles em que o bem vencia o mal. Da mesma forma, gostava de assistir algumas novelas turcas das quais não perdia nenhum episódio.

A neta gosta de contar coisas sobre ele: "Era engraçado como o vovô Domingos se assustava facilmente. Ele "pulava" da cadeira ou do sofá e sem querer soltava palavrões. Gostava muito quando íamos visitá-lo nas férias e, como morava na zona rural, rotineiramente gostava de mostrar os bois, suas plantações de pimenta-do-reino, mandioca...Sem exceção preparava uma galinha caipira para comermos(ele sabia que gostávamos) sendo esse o jeito dele demonstrar que se importava, visto que nunca foi uma pessoa de expressar muito afeto.

Em uma dessas viagens, um episódio marcante foi quando estávamos dançando no igarapé, minha tia escorregou e caiu, o vovô ficou vermelho, sem fôlego de tanto rir, visto que ela não se machucou. Este dia foi ótimo com a família reunida e ele estava feliz".

A neta relata ainda mais uma passagem que viviam com o avô: “Tínhamos uma brincadeira de perguntar assim: "- Quem é o lindão? Ele respondia: Eu sou o lindão, fazendo uma dancinha".

Ficou ainda mais feliz, quando seu bisneto Lucas nasceu e se tornou muito apegado à ele. Os dois brincavam muito e sorria tanto nessas ocasiões dizendo que a família Serejo iria ter continuidade.

"Agradeço por ter sido meu avô, foram 18 anos que tive essa oportunidade!"

Domingos nasceu em Anajatuba (MA)) e faleceu em Itaituba (PA), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Domingos, Ana Beatriz da Silva Serejo. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Vera Dias, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 25 de abril de 2022.