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Doroti Boulanger Trindade

1954 - 2020

Vocação para ajudar o próximo.

Doroti era a personificação da simpatia e do amor ao próximo. Segundo sua filha Aline Boulanger, Doroti era apaixonada por seu trabalho no Hospital Centenário, onde era técnica em enfermagem. "Ela espalhava alegria por onde ia e era capaz de acalmar o mais desesperado dos enfermos. Sempre acordava feliz e disposta, e era visível o carinho que dedicava a todos, em cada atendimento", afirma.

Ela trabalhava no hospital desde 2011. Era adorada por toda a equipe. Sua morte comoveu não apenas a família e amigos, como também todo o município de São Leopoldo: Doroti foi a primeira servidora da Saúde a falecer na cidade por causa do novo coronavírus.

Em nota, a Prefeitura de São Leopoldo lamentou o falecimento: "Doroti era unanimidade entre colegas que se tornaram amigos ao longo de sua jornada no Centenário, que hoje chora a perda de uma de suas mais queridas funcionárias. Uma vida carregada de alegria, a técnica em enfermagem apaixonada pela família, por samba e carnaval, tinha a profissão como vocação para ajudar o próximo, fazer o melhor por todos e para todos", diz o texto.

A presidente do Hospital Centenário, Lilian Silva, também prestou solidariedade: "É um momento difícil e de muita tristeza para todos da instituição. A Saúde como um todo perde quando se perde um profissional. Doroti era uma referência de dedicação."

Doroti deixou os filhos Daniel Boulanger Trindade e Aline Boulanger, além do neto João Pedro Boulanger. Ela também será lembrada como uma mãe e avó carinhosa e participativa. "Por conta do trabalho, não tinha muito tempo de folga, mas sempre dava um jeito de demonstrar seu amor para nós, seja através de um passeio ou sambando com a gente nas horas vagas. Minha mãe amava samba", conta Aline. "Ela amava acompanhar a apuração das escolas de samba e, às vezes, até dava um jeito de nos levar para um bloquinho de rua."

Segundo Aline, a mãe sentia-se frustrada com o descumprimento das normas de prevenção à Covid-19, mas mantinha o queixo erguido e seguia lutando para conscientizar as pessoas. "Sentimos falta dela todos os dias, e é horrível sempre ver pessoas circulando pelas ruas sem máscara, como se nada estivesse acontecendo, e se arriscando por vontade própria, enquanto minha mãe não tinha escolha: ela precisava se arriscar para poder salvar vidas", desabafa a filha.

Aline conta também que Doroti era uma defensora do Sistema Único de Saúde (SUS): "Minha mãe acreditava muito na Saúde Pública como uma salvação para o nosso país. Ela vivia dizendo que o SUS é um patrimônio nosso, e que se um dia tivermos uma vacina para o novo coronavírus sendo distribuída gratuitamente, é ao SUS que devemos agradecer."

Doroti nasceu em Cachoeira do Sul (RS) e faleceu em São Leopoldo (RS), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Doroti, Aline Boulanger. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Amanda Krohn, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de novembro de 2020.