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Drauzio Rodrigues de Macedo

1967 - 2020

Lutou pelas causas que acreditava, fossem elas políticas ou pessoais.

Drauzio amava o rock nacional e Raul Seixas, identificando-se muito com a música "Tente outra vez", que parecia ser o lema da sua vida. Como nordestino da gema, gostava da comida regional e do forró antigo, se fosse cantado por Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e outras referências desse gênero musical.

Era o segundo mais velho numa família de seis irmãos. Mesmo não sendo o primogênito da casa, passou a agir como se fosse depois que seus pais se separaram — quando ele tinha apenas sete anos —, chamando para si a responsabilidade de ser uma referência para os demais.

Para ajudar a mãe, empenhada em terminar um curso superior de Francês, ele vendia picolé na praia, varria quintais, cuidava de crianças e executava outras pequenas tarefas que pudessem render um dinheirinho extra.

A vida só melhorou um pouquinho mais tarde, quando um tio-bisavô, de nome Elias — bem empregado, solteiro e sem filhos — quis ajudar sua mãe a criar os filhos. Desse momento em diante, ele passou a ser considerado como um pai pelos sobrinhos-netos e a gratidão a esse personagem foi tão grande, que Drauzio batizou uma das filhas com o nome de Elisa com o intuito de homenageá-lo.

Drauzio era uma alma livre, que gostava de ser independente, mas ao mesmo tempo desejava muito constituir família. Assim, aos 23 anos, quando trabalhava em três empregos e fazia um curso de Licenciatura em Ciências, casou-se com Cida e logo vieram as filhas, Aline e Elisa, numa união que durou trinta anos.

Essa decisão o levou a fazer algumas escolhas como, por exemplo, interromper seus estudos e abdicar do esporte, que tanto amava. Não pôde também desfrutar de bolsas de estudo oferecidas em escolas longe de sua casa porque o deslocamento gerava custos que, mesmo trabalhando em tempo integral, ele não tinha como arcar.

Com seu espírito batalhador, retornou à universidade com o entusiasmo de um jovem estudante e, aos 49 anos, formou-se em Gestão Pública pela Universidade Federal da Paraíba, feito este que era motivo de muito orgulho para si e para toda a família.

O interessante é que conseguiu conciliar a vida familiar com o seu amor pelo esporte e viajou muito acompanhando Jogos Industriais e como treinador de time feminino. Viajou ainda como político, mas nunca deixou de estar presente; e como diz a filha Elisa, “ele foi o ausente mais presente que já se viu”.

Em família ele demonstrava carinho não com palavras, mas de uma forma diferente: fazendo dela a sua prioridade. Ele sabia cuidar das filhas fazendo com que soubessem que estava ali para tudo: do financeiro ao organizacional. Era amigo, conseguia falar por meio do olhar e elas nem precisavam declarar suas dificuldades porque ele as percebia e se antecipava dando todo o seu apoio.

Na vida profissional, começou como estagiário na empresa de energia local, onde veio a se tornar funcionário efetivo, ocupando cargos diferenciados, e onde permaneceu por trinta anos. Preocupado em se aperfeiçoar, fez curso de Programador de Computador, de Técnico em Segurança do Trabalho e de Radialismo. Ao longo da vida, foi sempre respeitado nos locais por onde passou e também reconhecido, não só pelo profissionalismo e dedicação a tudo que se propunha a fazer, mas também porque atuou de forma diferenciada na CIPA da empresa e no movimento sindical, no qual se encontrou como pessoa e em seu papel social.

Dentre as histórias de sua vida que circulam na memória familiar, algumas merecem destaque aos olhos da filha Elisa. Uma delas se deu por ocasião da preparação para sua formatura no curso de Direito no ano de 2017, quando a turma de Elisa foi vítima de um golpe financeiro e ela teve que deixar os preparativos da comissão de festas para não gastar mais dinheiro.

Meio ranzinza, ele passou dois meses querendo fazê-la desistir de participar das comemorações e, quando chegou o dia, não queria fazer nada do que ela pedia, ficando sempre “do contra”. O engraçado da história é que ele não só compareceu à festa na casa de eventos, como foi a pessoa que mais se divertiu! Terminou a noite com um show à parte, dançando em cima do palco com o cantor. Esse momento ficou na lembrança de todos os amigos, que se recordam dele como o paizão, a quem chegavam a pedir a bênção, que os levava para onde queriam e que fazia churrasco com seu jeito de bravo, mas muito feliz.

Outra história que ficou na lembrança, refere-se à sua luta política. Quando a televisão mostrava alguma imagem em que Drauzio aparecia lutando pelos direitos que acreditava serem justos, as pessoas ligavam para a família — inclusive a avó, que o fazia de forma assustada e cheia de preocupação.

Certa vez, a família estava assistindo a um vídeo ao vivo de uma manifestação e Drauzio — que não havia avisado que iria participar — foi reconhecido, causando um verdadeiro desespero na filha Aline, por considerar que ele não tinha mais saúde nem idade para isso. Passados uns trinta minutos ele chegou como se nada tivesse acontecido... e escutou dela um verdadeiro sermão, porque só ela conseguia controlá-lo.

Drauzio deixou um legado de lutas por aquilo que considerava ser o correto e o seu dever. Ele foi sempre um batalhador, que nasceu, cresceu e morreu lutando, até o último segundo. Lutou pela mãe, pelos irmãos, pelas filhas, pela classe de trabalhadores da qual fazia parte e pelos direitos fundamentais de toda a sociedade.

Ele sempre será lembrado pela sua preocupação com o ser humano e pela sua presença na vida das pessoas como um contato de segurança e um porto seguro, que não se esquivava de dar abrigo ou socorrer alguém independentemente da hora, do local e da situação.

Drauzio foi um exemplo de força e de lealdade. Da família, ele recebeu de herança a garra pela vida e pelo trabalho. Deixa como legado o exemplo da principal luta que abraçou: ser o melhor pai, o melhor amigo, o guia e o melhor chão que as filhas poderiam ter.

Drauzio nasceu em João Pessoa (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Drauzio, Elisa Peixoto de Macedo. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 15 de agosto de 2021.