Sobre o Inumeráveis

Eder Bueno Arantes

1971 - 2021

Estava sempre na casa da mãe ou dos irmãos para realizar as refeições e passar o tempo com a família.

O ofício de chaveiro não dava folga para Eder, o Dinho. Ele nunca tirou férias. Porém, arrumava um jeito de desfrutar do churrasco que tanto gostava com a família. Bebia sua cervejinha, jogava truco, cacheta e alegrava as reuniões, pelo menos até alguém pedir socorro, porque havia trancado a chave dentro do carro.

Quem o incentivou na profissão foi o irmão, mas Dinho aprendeu tudo praticamente sozinho. A sobrinha Nathália conta que ele começou bem novinho e logo se tornou referência para os moradores de Prata, uma cidadezinha no interior mineiro. Dinho acompanhou o mercado e nunca ficou desatualizado. Algumas pessoas, aprendizes na profissão, pediam dicas para ele. No início, atendia na janela da casa em que a mãe morava. Mas como o cheiro dos materiais era muito forte, logo se mudou do local onde toda família tinha casa no quintal.

Ele namorou bastante, entretanto, nunca se casou. Não teve filhos e dizia que os sobrinhos cuidariam dele quando fosse preciso. Era do tipo coruja e muito zeloso. Nathália conta que ele também era seu padrinho. Os pais dela escolheram o Dinho porque ele queria tanto uma sobrinha (ela foi a primeira), quanto eles queriam uma filha. Dinho só chamava Nathália de filhinha.

"Quando pequena, eu tinha problemas com leite e ele comprava o substituto, que era muito caro. Anos mais tarde eu passei por um momento difícil e o apoio dele foi decisivo. Fiquei mal porque me dediquei muito a concursos e não passei, no que consegui, não fui chamada. Eu tinha muito medo de meus pais terem dificuldades porque eu não estava trabalhando. Um dia, meu padrinho falou: 'Enquanto eu viver, nada vai faltar para nossa família'", contou Nathália.

Dinho também era torcedor do Vasco. Assistia aos jogos de futebol, porém, preferia as partidas de basquete do clube, esporte que jogou na juventude, inclusive. Como atleta, chegou a disputar os Jogos do Interior Mineiro (Jimi), competição em que tinha destaque.

Depois que Eder se foi, Nathália descobriu ainda mais histórias que mostram o quanto o tio-padrinho deixou saudades. Ela tomou a frente das burocracias do inventário dele por ser advogada, em gratidão. Durante o processo, descobriu diversos atos caridosos de Eder. "Por onde eu ia, escutava boas histórias do meu padrinho. Ele prestava muitos serviços gratuitamente, colaborava com projetos beneficentes", pontua.

Dinho se eternizou em cada um de seus gestos e no coração de cada pessoa que teve a sorte de conviver com ele. Permanece vivo e será amado para sempre.

Eder nasceu em Prata (MG) e faleceu em Monte Carmelo (MG), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela afilhada de Eder, Nathalia Arantes Urzedo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 28 de março de 2022.