1924 - 2020
Amava Turma da Mônica, livros de fantasia e tirar fotos com um sabre de luz nas estreias de Star Wars.
Esse avô foi um homem de múltiplos encantos para seus netos Isabel, Ludimila, Ticiana, Lucas, Leandro, Daniella, Gabriela, Luiz Fernando, Raphael, Pedro, Felipe, Carolina, Caio, Rogerio, Tainá, Ian, e a bisneta Alice. Não, não eram poucos de fato. Mas para esse senhor de alma jovem, cada neto era tratado como se fosse o único. Ele sabia o que cada um pensava, gostava, sentia. Era mais que presente, era presença verdadeira.
Para Edgard, não era nenhum sacrifício transitar pelo mundo dos mais novos, nem mesmo pelo universo multicolorido das crianças. É que ele carregava dentro de si o eterno espírito infantil da curiosidade e do encantamento. Desde antes de ter seus próprios filhos Tânia, Constância, Tânia, Manoel, Edgard, Nivaldo, Ricardo e Sabino, esse médico apaixonado por leitura já era um fã de carteirinha das aventuras da Turma da Mônica. Suas netas contam que foi ele o responsável por desenvolver nelas a paixão de ler. Vovô Edgard tinha em sua casa armários cheios de livros e de caixas recheadas de gibis com as aventuras de Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha.
Os netos cresceram, os interesses foram mudando e o vovô Edgard fez questão de acompanhar. Leu a saga Harry Potter, leu a saga Senhor dos Anéis e não perdia sequer uma estreia de Star Wars. Os netos faziam questão de comprar os ingressos antecipados. A família ia ao cinema em grupos de 15, 18, 20 pessoas. Os netos, rodeando o vovô, faziam questão de tirar a foto épica com Edgar segurando o sabre de luz.
Edgard viveu até o final de sua vida ao lado da esposa, Belarmina, à qual dispensava todo amor e cuidados, pois a companheira de toda a trajetória já estava adoentada há algum tempo. O casal contava com a assistência amorosa dos filhos e dos netos; e também com o apoio fundamental da Dethe, que está em suas vidas há mais de 20 anos, organizando os cuidados ao casal. Edgard também era o avô de coração dos gêmeos de Dethe, Guilherme e Vinicius, aos quais contava muitas histórias.
A saudade vem carregada de lembranças afetivas, de imagens amorosas guardadas nas memórias que foram vividas, na presença verdadeira do avô que abraçou sua missão de forma concreta e fez questão de fazer parte das experiências, das alegrias, dos apertos e vitórias de cada um dos dezesseis netos. E é assim que Edgard segue existindo vivo. Edgar está presente na tessitura de vida de cada um de seus descendentes.
Suas netas fizeram questão de compartilhar com o mundo, em nome de todos os familiares que agora choram a ausência do amado e amável vô Edgard, a história de vida desse grande homem.
“Edgard Viana de Sant’Ana trouxe à luz milhares de crianças ao longo de seus mais de 50 anos de carreira como médico ginecologista e obstetra. Ele também era a luz de sua família. Sua história de vida e de superação sempre inspirou a todos e todas que o conheciam. Nascido em 1924 em Natividade, no interior de Tocantins (que naquela época ainda era Goiás), Edgard ficou órfão na infância.
Mudou-se com seu irmão mais velho para Salvador, tendo no seu coração o sonho de ser médico. Enfrentou dificuldades de diversos tipos, mas sempre manteve seu desejo de um futuro melhor. Entrou para o Exército para poder continuar os estudos. Primeiro completou o ensino básico, depois o ensino médio, até que conseguiu realizar seu sonho e ingressar no curso de Medicina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, especializando-se posteriormente em ginecologia e obstetrícia.
Tornou-se médico do Exército e rodou o país ajudando milhares de pessoas por meio da sua profissão. Entrou para a reserva aos 56 anos e ingressou na Fundação Hospitalar do Distrito Federal (hoje Secretaria da Saúde), dando início a uma nova fase da sua vida em que atuou tanto na rede pública quanto na particular.
Edgard também foi bem-sucedido na vida pessoal, com sua esposa Belarmina Félix Santana constituiu uma família muito unida. Com duas filhas, cinco filhos, dezesseis netos e netas e uma bisneta, a casa deles era sempre cheia de gente e de alegria. Um homem com um grande coração, que tinha muito apreço à educação, gostava das coisas simples da vida, como uma pescaria num domingo ensolarado, um carteado ou de contar uma boa história. Adorava viajar e era apaixonado pelo mar. Outro companheiro da jornada de Edgard foram os livros. Ele era apaixonado por literatura e sempre manteve a leitura em dia. Aos 95 anos, preservou sua independência e autonomia até os últimos momentos.
Carismático, cativava todos ao seu redor. Foi uma grande referência e exemplo; uma pessoa íntegra, honesta e generosa. Deixará muitas saudades, mas sua luz jamais se apagará. Ela permanecerá sempre iluminando familiares, amigos e pacientes que cruzaram seu caminho”.
Edgard nasceu em Natividade (TO) e faleceu em Brasília (DF), aos 95 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelas netas de Edgard, Isabel Santana de Rose e Daniella Cristina Jinkings Sant’Ana. Este tributo foi apurado por Ana Macarini, editado por Ana Macarini, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 18 de agosto de 2020.