1964 - 2020
Capaz de ficar com fome pra dar de comer a quem não tinha. Vivia a dizer que veio ao mundo só para servir.
Filho de Xangô e Oxum, Edilson da Estância, bairro no subúrbio de Recife, era um homem muito especial, defensor aguerrido das religiões de matriz africana. Querido por toda a comunidade. Era um homem de sorriso fácil.
Congregou, de maneira muito organizada no mesmo terreiro, o Candomblé Ylê Axé Oba Peniquetan, e o Centro Espírita Caboclo Coraci, de Umbanda, onde o Mestre Zé dos Montes se manifestava. “O mestre é o mestre mais lindo e de luz que já conheci na vida. Era muito bem quisto por todos que chegavam lá e sempre tinha um ensinamento a dar”, conta a Priscila de Odé, sua filha de santo.
Sempre sorridente e vaidoso, era uma pessoa muito gentil. Dizia à nora, esposa do filho mais velho: “aquela que beija a boca dos meus filhos, adoça a minha boca”, Leonardo relembra, "eu achava muito lindo da parte dele”.
É também ele quem afirma o profundo respeito do pai às escolhas espirituais de quem quer que fosse, incluindo as de sua família: “Para ter ideia, ele era espírita e eu evangélico e nunca tivemos atritos sobre isso. Sempre respeitando um ao outro”.
Sua importância para a comunidade ultrapassava as barreiras religiosas e era querido e admirado, inclusive pelos evangélicos. Ele era convidado e comparecia aos eventos na igreja que o filho faz parte: “e quando alguém me perguntava o que meu pai fazia, eu dizia: 'ele é pai de Santo'. Nunca escondi e nunca neguei”.
Esse homem especial deixa órfãos, o Leonardo, o Darlon Gabriel, a Marília Gabriella, a única mulher, o Rafael Roberto e o caçula, seu xodó, o Rodrigo. Bom pai para os cinco filhos de dois casamentos. Foi capaz de manter unidas as duas famílias.
E assim como a Priscila de Odé, muitos filhos de Santo dele sentem-se meio perdidos e sem saber o que fazer para manter a fé. “Continuaremos acreditando e respeitando, mas duvidamos muito que exista um Babalorixá tão dedicado, honesto e de bom coração como ele.”
A Priscila de Odé divide essa homenagem com o Leonardo, filho do Edilson. E ambos falam sobre o homem bom e justo que ele foi.
Ele gritava aos quatro ventos que era Babalorixá, tinha isso como a principal coisa de sua vida.
Edilson nasceu no Recife (PE) e faleceu no Recife (PE), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho e pela filha de santo de Edilson, Leonardo Ferreira e Priscila de Odé. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Hélida Matta, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 23 de julho de 2020.