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Ednalva Moreira Bezerra

1965 - 2020

Amou grandemente a neta Alice, seu "doce mel".

Técnica de Enfermagem, Ednalva Moreira Bezerra, a Nalva – para muitos Nalvinha – foi filha, irmã, mãe, tia e avó exemplar. Acima de tudo, foi grande exemplo de profissional, mulher e ser humano.

Nascida em Castilho, no interior de São Paulo, em 1965, construiu sua vida em Ilha Solteira, outra cidade paulista. Teve duas filhas, Ana Luiza e Beatriz, mas encontrou seu amor mais pleno no verão de 2011, com o nascimento da neta Alice, o seu “doce mel”.

Em seus últimos anos, dedicou-se com devoção ao seu trabalho no setor de Maternidade e Pediatria do Hospital Regional de Ilha Solteira, onde acompanhava suas “mãezinhas” em momentos de muitas dúvidas e incertezas. Era incansável. “Hoje, trabalhei igual gente grande”, costumava dizer nas ligações feitas para a filha Beatriz, depois do expediente.

Ensinava às mães de primeira viagem como ensinara à filha: lições de como dar banho, segurar o bebê, amamentar, acalentar e vigiar. Acompanhava as crianças doentes, mas sentia pavor de ver alguém coletando o sangue dos pequenos. Era um misto de mãe, avó e enfermeira. Tantas vezes “psicóloga”, mas sempre uma profissional de referência e amiga para todas as horas.

Em anos de trabalho, Nalva encontrou pelo caminho muitas amizades e o despertar para o ofício da caridade. Dedicou-se às ações sociais e beneficentes dos freis franciscanos – mantenedores do Hospital Regional de Ilha Solteira – e adorava trabalhar em seus eventos. Registrava tudo em muitas fotos – amava fotos! – e postagens que tanto gostava de fazer nas redes sociais. Estava sempre disposta, sua dedicação para o trabalho se refletia tanto nos momentos de dificuldade e cansaço, como nas festas e confraternizações.

Nos últimos meses, já em meio à pandemia, respondeu aos medos que com ela vieram, começando a preparar e distribuir suas “Delícias da Ná”: doces e geleias artesanais carregadas de afeto. Era assim que demonstrava seu amor e alcançava as pessoas, mesmo de longe. Privilegiadas, pois conheceram um pedacinho da Nalva na forma de seus quitutes e receitas, que ela não hesitava em compartilhar.

"Cuidado": palavra que a definiu tão bem e que transbordava de tantas formas. Fosse com seu cachorro Charlie, a quem muitas vezes deu o “braço a torcer” e deixou que dormisse no sofá junto a ela, ou com suas plantinhas, tratando-as com tanto carinho, sempre fazendo mudinhas para também presentear. Encheu sua casa delas e de muitas outras pessoas também.

“Que não nos falte fé, amor e café, amadinhas e amadinhos”. Era assim o seu bom dia. Criava apelidos carinhosos para os que lhe cercavam e tinha um jeito especial de cativar todos.

Adorava café, boa comida, festas, dar risadas, dançar... e dizia que “aniversário era obrigatório comemorar”. Assim, ensinou a neta Alice e sonhava com o dia de sua festa de 15 anos. “Vai ser uma festona”.

O último aniversário de Nalva, que nasceu no dia de São Francisco de Assis, em 4 de outubro, infelizmente não pôde ser comemorado como ela e sua família gostariam. Mas estava acompanhada de suas amigas de trabalho, aos olhos dos médicos, em um leito no Hospital Regional, onde lutou até o fim por sua vida.

Para sempre o dia de sua partida será marcado, não apenas por sua despedida tão repentina e dolorosa para os corações que ficaram, mas por toda a trajetória e pela alegria que despejou em tantos ao longo de sua vida tão lindamente vivida.

“Celebraremos a sua existência que jamais se findará”, promete a filha Beatriz em nome de todos os amadinhos e amadinhas que tiveram a sorte de encontrar a Nalva pelos corredores da vida.

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Tanto na família como no trabalho, Nalva, como era carinhosamente chamada, expressava sua alegria de viver.

Na família, “era uma boa mãe e uma avó apaixonada pela neta Alice”, conta a cunhada Celia.

No trabalho, na ala pediátrica do Hospital Regional de Ilha Solteira, encantava a todos com sua alegria ao receber um recém-nascido em seus braços. “Embora árdua, amava sua atividade”, afirma a cunhada.

E, como hobby, fazia deliciosas geleias.

Com a sua partida, fica a saudade e a lembrança confortante do sorriso contagiante de Nalva.

Ednalva nasceu em Castilho (SP) e faleceu em Ilha Solteira (SP), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelas filhas e pela cunhada de Ednalva, Beatriz Moreira Bezerra Vieira, Ana Luiza e Celia Vieira Gabriel. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de março de 2021.