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Edson Brás Moreira

1950 - 2021

Em sua simplicidade, orgulhava-se em proporcionar à família grandes viagens.

Edson começou a aprender o valor do trabalho desde pequeno, pois ajudava o pai em uma farmácia. “Trabalhou a vida toda para cuidar da família”, diz a filha Daniela, que destaca a honestidade, a bondade, a gentileza e a humanidade do pai, não só com as pessoas, mas também com a natureza e com os animais.

Além disso, ele também tinha algumas manias, era “um homem metódico, que tinha um copo separado para ele ao lado do bebedouro”, conta Daniela. Outro costume engraçado era o de lavar as vasilhas mesmo já estando limpas. Mas, para a filha, o mais hilário era o pai ter chumbado um cofre na parede do quarto e de sempre, no final da noite, varrer o chão da casa junto com a esposa.

Muito estudioso, Edson tinha facilidade em aprender um pouco de tudo. Ele gostava de matemática e era expert em elétrica, ou melhor, em fazer as famosas gambiarras. “Para tudo ele tinha um jeito”, lembra a filha. Isso fazia com que todos da família pedissem socorro a ele, e Daniela estava entre as primeiras da lista.

Para Edson, não havia barreira tecnológica e nem mudança de época que o impedissem de ajudar, de aprender e de compartilhar seus conhecimentos. Daniela fala que o pai, com sua letra linda, “ensinava os netos a fazerem o dever de casa”. Para ele, que tinha o maior orgulho dos seus diplomas, o estudo era sinônimo de conquista. Estava só aguardando chegar o diploma da faculdade, sonho tão almejado e conquistado no final de 2020, para arrumar todos os certificados em uma pasta.

Edson era de poucos amigos e não saia muito de casa. Depois que se aposentou, viveu para a família e para a sua grande paixão, a esposa. A filha Daniela narra como o pai sentia orgulho em proporcionar, com todo sacrifício, momentos felizes à sua família. “Na lua de mel ele levou minha mãe ao Rio de Janeiro. Eles atravessaram a Ponte Rio-Niterói. Isso foi algo grande para meu pai, que era um simples operário e conseguiu juntar as economias para viajar".

Além da viagem, ele fez questão de pagar um fotógrafo para registrar o casamento. Edson valorizava muito a memória. Daniela recorda com carinho o dia em que os dois folhearam juntos as fotos do casamento.

A filha ainda cita outro fato marcante, quando o pai levou a família para conhecer o mar pela primeira vez. “Foi nossa primeira viagem juntos, a gente podia comer de tudo, porque ele juntava o dinheiro durante o ano para essa viagem”. Embalados ao som de Roberta Miranda, no carro modelo Passat verde musgo, a cor preferida de Edson, viajavam ouvindo no toca fitas mais de um milhão de vezes a música “Vá com Deus”. O fato nunca deixou de ser motivo de brincadeiras entre pai e filha.

Daniela conta que na última noite em que esteve com o pai, ela adormeceu enquanto assistia a um filme, e que a música do início do filme era a mesma que eles ouviram durante a viagem à praia na sua infância. Música essa que traz lindas recordações do pai Edson.

Edson nasceu em Inhapim (MG) e faleceu em Ipatinga (MG), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Edson, Daniela Dornelas Moreira. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Tatiani Baldo e moderado por Rayane Urani em 8 de junho de 2021.