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Edson Gonçalves de Araújo

1942 - 2020

Um homem iluminado e de caráter irreparável. Avô que amava a família e era louco pelos almoços de domingo.

Edson era dessas almas iluminadas que por onde passava deixava um pouco de sua luz.

Casado há cinquenta e dois anos com Dona Onilda, teve quatro filhos e sete netos. Edson estava aposentado, depois de ter trabalhado por muito tempo na mesma empresa, a EMSA. Durante a infância dos filhos, ficava muito fora de casa, em outros Estados. Quando os filhos chegaram à adolescência felizmente teve condições de estar mais presente, e sempre fez o impossível por eles.

Era o alicerce da família, de todas as formas possíveis. Já na aposentadoria, Edson e a esposa montaram uma horta, para passar o tempo, e estrelaram até uma reportagem de TV sobre hortas sustentáveis.

Edson gostava de ler de tudo: jornal, revistas e livros. Era seu passatempo preferido. Nos aniversários e festas, recebia livros. Além de ler, gostava de escrever, e tinha uma linda caligrafia. Era inteligente e falava bem.

Chamado carinhosamente pelos filhos de Careca, era flamenguista apaixonadíssimo. Os filhos nunca gostaram de futebol, nem torciam para time algum, então ele conversava sobre o assunto com o genro, com quem encontrou companhia para assistir às partidas pela TV.

Era louco pelos netos. A filha Simone conta que, depois do divórcio dela, o pai lhe deu todo o apoio, tanto emocional quanto financeiro. Edson praticamente criou o filho de Simone e foi o pai que o menino conheceu.

"Era aquela pessoa que tirava o único real que tinha no bolso para dar a quem precisasse", relembra a filha Simone, destacando também que o pai chamava a todos de "companheiro".

Nos almoços de domingo, ficava na calçada esperando todo mundo chegar. Não sossegava enquanto não chegasse o último. E o almoço só começava quando todos os filhos e netos estivessem sentados à mesa.

Edson foi adolescente para São Paulo. Queria desbravar o mundo, mesmo sem muitas condições financeiras para isso. Trabalhou como vendedor ambulante, e às vezes comia pão com banana para matar a fome. Era, aliás, louco por banana. Se não comesse uma todo dia as coisas não estavam boas para ele.

A esposa ele conheceu na cidade goiana de Rubiataba, por causa de uma tia que morava lá. Na época em que conheceu Onilda, numa festa, ela estava noiva, a apenas quarenta dias do casamento. Os dois se apaixonaram e ela desfez o compromisso, decidiu obedecer ao coração. Seu Antônio, pai dela, não queria porque Edson era desgarrado, andava pelo mundo, sem fixar o pé num canto. Era aventureiro demais. Eles se casaram, mesmo sem a presença do pai de Onilda, e mesmo que Edson tivesse que usar um terno emprestado.

Tempos depois o sogro viu que Edson era um bom partido e passou a respeitar o genro. Não foi pouca mudança, foi da água para o vinho: para Seu Antônio era Deus no céu e o genro na terra.

"Edson era um companheirão, amigo de tudo e de todos. Uma pessoa sem maldade. Era a simplicidade em pessoa e não tinha uma alma viva que o conhecesse e não gostasse dele. Para ele não tinha dia ruim", diz a filha.

Edson se foi sem que a família pudesse se despedir. Simone conta que fez duas tatuagens em homenagem a ele. Uma diz “Deus te dê boa sorte, minha filha!” e a outra é uma assinatura dele com a data de seu nascimento seguida da frase: “É na lembrança do seu sorriso que eu sigo o meu caminho”.



Conhecidos convertiam-se em amigos desse homem ímpar, graças ao seu carisma e caráter impecável.

Edson cumpriu com excelência todas suas funções nessa vida. "Foi ótimo pai, marido, avô, amigo, irmão, tio e padrinho". Fala com ternura a sobrinha e afilhada, Camila.

Trabalhador, foi um batalhador incansável. Travava as batalhas da vida com força, mas nunca sem humildade.

Tratava todos sempre com simpatia. Conhecidos e desconhecidos tornavam-se amigos ao se depararem com seu carisma e seu caráter impar.

Homem bom, partiu deixando lembranças e saudades para os que tiveram o prazer de conhecê-lo.

E mais saudades ainda para os que o amaram e por ele foram amados durante sua passagem iluminada por essa vida.

"Saudade eterna, querido tio e padrinho", fala com ternura, sua sobrinha e afilhada Camila, concluindo sua homenagem.

Edson nasceu em Boninal (BA) e faleceu em Brasília (DF), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e pela sobrinha de Edson, Simone Cristina de Araújo Tolentino e Camila de Araújo Oliveira Tomé. Este tributo foi apurado por Lila Gmeiner, editado por Cristina Marcondes e Ozaias da Silva Rodrigues, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 10 de setembro de 2021.