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Eduardo Aparecido Eredia

1948 - 2020

Todo final de tarde, caminhava pela fazenda com a esposa para contemplar a beleza da natureza.

Homem do campo, gostava de acordar cedo, junto dos passarinhos. Era muito trabalhador, simples, honesto e de bom coração. Adorava caminhar pelo pasto no final da tarde com a esposa Maria, ou então pegava o carro e junto com ela dava uma volta pela fazenda para contemplar a beleza da natureza, de sua criação.

Vivia com um sorriso estampado no rosto e pronto para brincar ou contar uma piada. Eduardo era brincalhão, embora também fosse reservado. Conhecido por todos na região, tinha vários amigos, mas fazia questão de estar com os familiares em primeiro lugar.

Vivia para a família e a fazenda. Marido protetor de Maria, com quem esteve por trinta e dois anos. Pai amoroso de Adriana, Humberto, Andreia e Ana Paula. Avô bondoso de dez netos. Dono de um coração tão grande que não fazia distinção entre Sônia e Débora (filhas de sua esposa), que amava como aos seus.

Era do tipo conselheiro, aquela pessoa para quem você liga quando mais precisa. Estava sempre pronto para acalmar e amparar com uma palavra acolhedora. Na realidade, preferia falar a ouvir. Muito sábio e emotivo, não suportava mentiras. Manhoso que só, gostava que lhe dessem tudo na mão. E Maria não podia sair de perto, porque senão ele adoecia.

Tinha mania de beliscar. A filha Andreia conta que às vezes ele chegava de forma repentina e simplesmente dava um beliscão como forma de brincar. Outra de suas peculiaridades era tomar café exclusivamente naqueles copos americanos – clássicos de cerveja. “Ele não bebia café na xícara, só em copo. Para tomar o café, antes tinha que passar água no copo todas as vezes – não sei o porquê disso, mas era hábito dele. E não gostava de comer em prato raso, só em prato fundo”, lembra ela.

Paulinha, a filha caçula, recorda que entre as manias também estava a de “ficar nos esperando chegar de viagem. ‘Nossa, vocês demoraram. Se fosse eu, já estaria aqui faz tempo’, dizia. Ele contava os minutos para nos ver; quando chegávamos em casa, meu pai estava quase sempre à espera com sua camisa vermelha. Ele se preocupava com a gente, queria saber como estávamos, o que pensávamos e sempre nos dizia ‘Juizinho’”.

Eduardo apreciava uma boa comidinha caseira e se deliciava com os temperos dos preparos de Maria. Andreia relata que ele “gostava de comer bobeira, doce. Suas sobremesas favoritas eram pudim e o bolo de laranja de minha mãe – na verdade, era o que ele mais gostava. Adorava também polenta com frango caipira”.

Uma história engraçada de sua infância que ele contava e recontava era “quando juntava a família para comer, as melhores partes do frango eram dos adultos. As crianças sentavam na mesa e ficavam com as partes que sobravam – pé, asa. E teve uma vez que meu pai foi na casa de uma pessoa que estranhou ele só comer pé de frango e lhe perguntou por quê. Sua madrinha disse que era porque ele gostava mesmo, mas papai prontamente retrucou: ‘É porque não posso comer outro’”.

Devoto de Nossa Senhora de Aparecida, Eduardo transmitiu o nome da santa para os filhos. Homem de grande fé, acompanhava as missas e estava em constante contato com Deus através de suas rezas. Na fazenda, tinham o costume de realizar missas regadas a bastante comilança, e ele adorava os dois.

No tempo livre, não perdia o futebol. Adorava acompanhar as partidas do Santos, time do coração. Seu lazer era assistir ao jornal e tudo que é esporte. O estilo de música favorito era o sertanejo raiz. As músicas de Paula Fernandes eram a trilha sonora preferida para o café de todas as manhãs com a esposa.

Estar perto da natureza lhe fazia muito bem. Cercado por ela, seu prazer era alimentar os passarinhos e os animais de seu rebanho. Sempre que podia, encontrava maneiras de se conectar ainda mais à imensidão natural. Como, por exemplo, acordar cedo aos domingos para assistir ao programa Globo Rural, costume adquirido havia tempos.

Em contrapartida, o que o deixava agoniado era saber que precisava ir ao dentista. Morria de medo! Quando o tiravam do sério, ele ficava sem reação e, justamente por isso, ganhou o apelido de “parafuso”. “Meu tio deu esse apelido para ele, porque, quando meu pai estava nervoso, não saía do lugar. Ficava igual a um parafuso, rodando, rodando, sem sair do lugar”, comenta Andreia.

“Meu pai tinha uma frase que falava bastante: ‘Não somos donos de nada deste mundo, somos apenas administradores’”, menciona Andreia. Eduardo cumpriu a missão de administrar muito amor pelos seus de forma ilustre e extraordinária.

Eduardo nasceu em Aparecida do Taboado (MS) e faleceu em Rondonópolis (MT), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas filhas de Eduardo, Andreia Aparecida Eredia e Ana Paula Aparecida Eredia. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Marina Teixeira Marques, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 30 de junho de 2021.