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Elair Terezinha Silva da Silveira

1942 - 2020

Das costuras ao artesanato, encontrou uma forma de ajudar famílias carentes e compartilhar seus conhecimentos.

Em cada uma das histórias que compuseram a vida de Elair, algo sempre se sobressaía: seu incessante amor e determinação. Fosse nas travessuras da juventude ou, mais tarde, nas lições que transmitia aos filhos, sua presença era fonte inesgotável de zelo e carinho.

Talvez esse jeito cuidadoso tenha florescido desde cedo, quando, com a perda da mãe, passou a cuidar dos irmãos, despertando em si o talento único de proteger e fazer o bem a todos. “Era muito natural isso nela, tinha um coração muito bondoso. Tinha sempre uma palavra de conforto”, recorda a filha, Elis.

Quem mais se beneficiava desses carinhos e mimos de Elair eram seus filhos. Mesmo nos tempos conturbados em que vivenciou a perda de dois deles, ainda bebês, agarrou-se à fé inabalável que nutria e recuperou-se, tornando-se mãe de mais dez filhos. “Acho que ela realmente tinha o dom de ser mãe. Fazia o possível e o impossível pelos filhos. E ai de quem mexesse com suas crias!”, conta Elis. Seus atos de ternura cercaram cada um deles, desde pequenos, e os acompanharam ao longo de suas trajetórias.

“Éramos muito unidas, eu era seu ‘grude’", continua Elis. "Onde ela ia me levava junto. Foi muito paciente comigo, já que sempre fui muito traquinas e birrenta. Eu não queria estudar e me levar para a escola não era tarefa fácil — mas ela sempre dava um jeito. Dizia que iríamos passear, então escondia minha mochila em outra bolsa e íamos dar uma volta — que acabava na escola. Ela era de uma astúcia! Eu chego a ouvir seu riso faceiro de missão cumprida. Cuidou muito bem mesmo. Quando descobriu que eu sou "gay" ela soube entender isso e não mudou em nada seu carinho por mim. Ela era uma pessoa incrível.”

Elair também compartilhou seu amor com o marido, a história do casal guarda um primeiro encontro um tanto inesperado: “Minha mãe foi passear em São Mateus do Sul para visitar seus padrinhos e lá conheceu meu pai, Moacir, que trabalhava na barbearia do padrinho. Quando ela o viu pela primeira vez, fez uma careta e mostrou a língua pra ele, mas meu pai não sabia que ela era afilhada de seu patrão. No outro dia, eles se viram novamente em uma lanchonete, onde meu pai também trabalhava, durante a noite. Depois disso começaram a namorar”, conta Elis. Nos altos e baixos, permaneceram unidos e esforçaram-se ao máximo para cultivar a família que criaram juntos. "A relação nem sempre foi um mar de rosas, mas sempre teve respeito", conclui.

Elair realmente fazia tudo o que podia por sua família. Como havia aprendido a costurar desde pequena, com a mãe, trabalhava como costureira. E não parava por aí: fazia salgados e sonhos deliciosos para vender.

Claro que, além de dedicar-se à família, ela também gostava de exercitar outras paixões, que variaram no decorrer da vida. Quando jovem, distraía-se com as revistas de fotonovela, famosas na época. “Uma vez, a mãe dela saiu e a deixou responsável por acender o fogo para cozinhar e limpar a casa. Limpando a casa ela achou a revista, começou a ler e esqueceu tudo o que tinha que fazer", conta Elis. "Só sei que minha avó chegou e ela não havia feito nada”.

Ela amava patinar, costurar e ir ao cinema assistir às matinês. Quando mais velha, gostava de relembrar desses tempos passados, contando episódios singelos aos filhos, que ouviam atentos: “Tem uma história que ela contava da Vó Olívia, a mãe dela. Contava que ela ensinava a maneira certa de tirar cebolinha da horta: tinha que 'cortar bem juntinho no talinho pra não estragar o pé; pra vir outro talinho novo, bonito'”.

Com tantas vivências e aprendizados, mais tarde passou a explorar também seu lado artístico com suas amadas pinturas em tecido e o artesanato com caixas de leite e garrafas PET. Como ainda transbordava afeto e gentileza, apreciava compartilhar seus conhecimentos e passava os dias empenhada nas atividades da FEMA - Família, Educação e Muito Amor, uma organização que fundou, junto de uma de suas filhas, como forma de ajudar famílias carentes e ensinar artesanato.

Os atos de amor e bondade de Elair estarão sempre vivos na memória de todos.

Elair nasceu em São Mateus do Sul (PR) e faleceu em União da Vitória (PR), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Elair, Elis Silva da Silveira. Este tributo foi apurado por Brenda de Oliveira Teixeira, editado por Brenda de Oliveira Teixeira, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 17 de março de 2022.