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Eliana Inez Martins

1976 - 2021

Ao descer o morro de bicicleta, soltava o freio para apreciar a aventura e o vento no rosto.

Eliana foi uma mulher incrível que sempre batalhou muito para conquistar milagres que para muitos eram considerados como inalcançáveis. Com uma fé viva e atuante, nunca desistiu de seus sonhos e de alcançar mais e mais vidas com os mais belos testemunhos.

Sempre apaixonada pela vida, via tudo com um olhar divino. Em 2016, ao descobrir uma doença crônica incurável, agarrou-se ainda mais à sua crença e iniciou seu tratamento e luta para viver.

Ao passar noites em claro, dizia que Deus falava com ela através de músicas e, ao acordar, transcrevia cada uma delas em um caderno. As canções que foram registradas por ela estão sendo gravadas, mas Eliana não teve tempo de ouvir todas essas músicas finalizadas.

Amava dançar e cantar com seus amigos em encontros da igreja. Seja entre amigos ou com a família, ela era só alegria. Ria e conversava muito, nunca demonstrava quando algo a deixava chateada ou entristecida. "Ela sempre foi a alegria da nossa família, unia todos com largos sorrisos e um caloroso abraço que, segundo ela, 'era o que salvava vidas'", relata a filha Daiane.

Tinha o hábito de andar o dia todo com um terço nas mãos e rezando baixinho. E amiúde, assim que apagava as chamas do fogão, ia logo chamando para o almoço ou jantar, não conseguia esperar.

Uma de suas manias marcantes era tirar uma soneca após terminar o serviço da casa, mas até nesse momento de descanso aproveitava o tempo para instruir suas meninas dizendo: "Quando vocês não tiverem o que fazer, vão dormir. Nunca usem o tempo de vocês para falar da vida dos outros".

A filha Daiane conta que elas viviam gravando vídeos em um aplicativo de mídia para criar e compartilhar vídeos curtos, o que sempre rendia muitas risadas. "Às vezes íamos de bicicleta até a casa do meu tio e quando a gente ia descer morro, ela ia com tudo, sem apertar o freio. Eu ficava para trás e via a mamãe rindo muito por conta do meu medo de andar de bicicleta", relembra ela.

Ao saber que a filha havia ingressado na faculdade, seu contentamento foi tão grande que não conseguia esconder o sorriso estampado de orelha a orelha. Era a mais autêntica expressão da felicidade que transbordava da relação que cultivava com a filha Daiane. "Quando minha irmã Daniele saiu de casa para trabalhar, o sentimento não foi diferente. Ela se orgulhava e fazia questão de falar para todos", relembra Daiane.

Ao longo da vida, Eliana teve muitas amizades marcantes que eram cultivadas com extremo zelo e carinho. Para cada um que precisasse, ela não hesitava em dobrar seus joelhos no chão e pedir a Deus para que cuidasse de tudo na vida da pessoa. Dentre essas amizades, uma que cultivava desde a mais tenra infância era com Cristina. Além de confidente, a amiga era essencial para que ela renovasse suas energias e voltasse feliz da vida com tanto amor e carinho trocados a cada encontro. Outra amiga e confidente especial era a cunhada Betinha, contava ainda com a grande amiga Neném e os inúmeros amigos da igreja.

"Ela sempre amou trabalhar. Quando éramos crianças, ela falava que trabalhava para ver a gente bem-vestida", conta a filha Daiane e prossegue: "Ela amava demais a família. Eu, minha irmã e meu pai éramos tudo para ela. Em seguida vinham os irmãos de quem ela se orgulhava e pelos quais nutria um amor incondicional. Fazia de tudo para vê-los felizes. Era uma pessoa amorosa com todos à sua volta; o xodó, Pedro Henrique, e os demais sobrinhos eram muito amados por ela."

Viver. Esse era o seu maior sonho. Ela também queria viajar muito e conhecer lugares novos, e repetia sempre: "Se minhas filhas estiverem bem, eu também estarei". Ela amava flores ─ em especial as rosas amarelas. Talvez, para garantir que as filhas ficassem sempre bem ─ mesmo após sua partida ─, em seus últimos meses de vida ela fez um lindo jardim de roseiras em volta da casa onde morava. O jardim está lá, as rosas amarelas também e as filhas conseguem sentir ainda sua presença e seu perfume no desabrochar de cada rosa.

Uma das frases recorrentes na vida de Eliana era: "A saudade é o bem mais importante na nossa vida, por isso devemos sempre nos cuidar".

Enviou para a filha Daiane uma linda mensagem, enquanto estava internada: "Eu me orgulho tanto de você, Dadá", conta a filha que hoje se inspira nessas palavras para se manter firme na busca e na realização de seus sonhos.

Eliana foi uma intercessora na Terra e hoje está diante do Altíssimo Senhor.

Eliana nasceu em Areado (MG) e faleceu em Areado (MG), aos 44 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Eliana, Daiane Aparecida Martins. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 4 de março de 2022.