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Elizabeth Maria Loureiro Gil

1945 - 2021

Querida por tantos, Bebeth gostava de lembrar e contar histórias de família. Mãe e avó amorosa e sempre presente.

"Das várias lembranças que guardo de Bebeth, têm duas que me marcaram de forma especial e levarei por toda a vida:

A primeira foi o Senhorita Rio, em 1967. Durante o período do concurso, nos tornamos inseparáveis. Eu era a maquiadora oficial dela e a acompanhava em todos os eventos. Foram dias de uma convivência muito feliz, com momentos inesquecíveis.

Recordo-me que, quando chegávamos na casa de seus pais, às vezes tarde da noite, como em dias de baile, tia Bertha colocava um colchão para mim no quarto de Bebeth, ao lado da cama, e ficávamos conversando até dormir.

Durante a minha juventude, era nela que eu me espelhava. Admirava suas qualidades, especialmente sua força e determinação. Foram essas duas qualidades que me ajudaram muito no período do meu relacionamento com Roberto.

Nos anos em que morei no Sul, trocamos cartas que guardo até hoje.

Por isso, desejo que os filhos Mariana e Gustavo também possam se espelhar nela. E que a sua força e determinação os ajude a superar todas as dificuldades."

Lembranças da prima Marcia de Macedo Soares.

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"De todas as lembranças que vou guardar de Bebeth, tem uma, em especial, que foi muito positiva em minha vida e que desejo compartilhar aqui:

Certa vez, Bebeth foi comigo conferir o resultado do vestibular que tinha prestado. Naquela época, as listagens com os nomes dos aprovados ficavam penduradas na parede. Ficamos ambas procurando meu nome. Eu olhava de baixo para cima e nada! Não encontrava. Então eu disse: 'Nossa, nem estou na lista!' Enquanto isso, ela estava procurando de cima para baixo. Quando chegou no décimo terceiro lugar, lá estava meu nome! Tinha entrado na faculdade! Então, ela falou assim: 'Nunca mais olhe as suas coisas de baixo para cima, olhe sempre de cima para baixo!'

Aquilo foi muito importante para mim como pessoa e na maneira de eu enxergar as coisas em minha vida. Ajudou muito, tanto é que, até hoje, eu guardo viva na memória essa experiência com ela.

Cada vez que me recordo desse momento fico feliz. Porque, além de ter sido um ensinamento que eu carreguei por toda a vida, também me faz lembrar de como ela era positiva. Bebeth era uma pessoa de bem com a vida!"

Lembranças da prima Marilia de Macedo Soares.

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"A vida como ela é. Perdi uma amiga de infância. Fomos criados praticamente juntos. Durante os três anos em que residi com meus padrinhos convivi com Bebeth diariamente.

Naqueles dias eu tocava violão e cantava com ela os lançamentos da MPB que fervilhavam na Rádio Tamoio. Com os amigos do bairro, Ciro (baterista) e Roberto (pianista), formamos um trio de fundo de quintal onde podíamos curtir as músicas daquele momento. Certo dia, assistindo nossa reunião musical, Bebeth ficou tão animada que conseguiu com o diretor do Colégio Pedro II, o professor Segadas, a quadra de esporte do colégio e, ali, promoveu, num domingo, uma "Tarde Dançante".

Neste período ocorreram duas passagens que marcaram minha vida. O serviço militar, em 1965, e o ingresso na faculdade de engenharia, em 1967.

Recordo-me perfeitamente do apoio que Bebeth me deu, com seus conselhos e sua preocupação com a disputa acirrada do vestibular de engenharia. Aquele vestibular não foi só meu, foi de Bebeth também. Depois da última prova de português/inglês, caí no sono profundo, pois não suportava mais o cansaço mental. Fui acordado com um abraço de Bebeth que, mostrando sua alegria, disse apenas: 'Paulo, você conseguiu! Parabéns!' O carinho que demonstrou por mim se confirmava sempre em suas palavras.

Na passagem do meu aniversário em 2020, ela foi buscar, no fundo do baú, uma palavra que eu usava quando estava aprendendo a falar, assim se expressando: 'Parabéns!! Basafá!! Tudo de bom pra você. Muiiiiita saúde, muita paz. Que o Universo continue conspirando a seu favor. Saudades de você... um dia chego aí'. Abismado com sua memória, perguntei se ela ainda se lembrava do Basafá. Prontamente me respondeu: 'Sempre!'

Sinto falta de nossas conversas ao telefone e pelo aplicativo de mensagens. Conforto-me com as lembranças e muita saudade da prima e amiga Elizabeth."

Lembranças do primo Paulo de Macedo Soares.

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"Quando nasci, Bebeth estava com 18 anos. Dos primeiros tempos de infância, recordo-me do seu quarto, sempre muito arrumado, e de um lindo boneco bebê, que ficava em cima da cama ─ ele parecia ser real. 'Muito cuidado, Mindazinha! Esse boneco veio dos Estados Unidos', dizia tia Bertha. E eu ficava imaginando como seria esse lugar que fazia bonecos tão perfeitos...

À medida em que o tempo foi passando, a prima bonita, educada, elegante e de gosto refinado, que apreciava licor de pêssego, chocolates da Kopenhagen e que já tinha viajado de avião, também se tornou miss, escreveu um livro e passou a lecionar História em um dos melhores colégios do Rio de Janeiro.

Com a nossa vinda pra Brasília, nos distanciamos por um tempo. Até que, um dia, o Gil foi transferido pra cá. Lembro-me quando eles chegaram lá em casa, num Opala branco, e fomos apresentados a um pequeno garotinho, de olhos vivos e cabelos loiros, bem lisinhos, que era muito espoleta. Bebeth estava extremamente feliz. Brincava e dançava com o filho Guga, como se fosse criança também.

Naquela época, eu estudava no Maristinha. Às vezes ia visitá-la quando saía da escola e me deparava com ela se desdobrando entre os cuidados com a família, a casa, as correções de provas e o planejamento das aulas do Colégio Militar de Brasília (CMB).

Os anos passaram, retornamos de mudança para a capital. A vida ficou mais corrida, os compromissos e responsabilidades aumentaram, mas ela sempre telefonava e fazia questão de aparecer a cada aniversário e Natal, nas formaturas, internações e falecimentos.

E, assim como o vinho, que fica cada vez melhor com o tempo, Bebeth, que apreciava uma boa safra, também permitiu que os anos e o sofrimento apurassem-na e, sem perder o otimismo, fossem revelando o seu melhor.

Durante a pandemia, conversamos muito por telefone e sentadas naquele banquinho debaixo do prédio. O frango caipira, a banha, a polpa de maracujá ou os quindins eram apenas o pretexto para nos encontrarmos e batermos um papo no final da tarde.

Ela contava orgulhosa as descobertas e façanhas do Gabriel, falava sobre o carinho e os cuidados da Mari, alegrava-se ao dizer que o Guga tinha ido visitá-la, explicava como estava a pesquisa de genealogia, divertia-se relembrando as histórias da família, ficava perplexa diante dos fatos políticos atuais, ou, silenciosa e atenta apenas me ouvia... Momentos que fotografei na memória e vou guardar com ternura.

A convivência com Bebeth, além de me enriquecer, instigou-me a compreender mais a fundo os fatos e as ações humanas e serviu de inspiração para ousar, querer ir mais longe e refletir sobre meu papel como mulher no mundo de hoje. Agradeço a Deus por esse tempo, pelas boas lembranças e pela ótima companhia.

Que ela esteja em paz, ao lado do marido e de todos os nossos queridos que já partiram, celebrando esse reencontro.

Que seus filhos, ao lembrar dela, encham os seus corações de gratidão e se fortaleçam, na certeza de que ela permanece viva em cada um deles, e continuará torcendo e 'mexendo os pauzinhos' por suas felicidades."

Lembranças da prima Adriana Oliveira.

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"Com o coração partido, escrevo essas linhas falando dessa prima que era tão querida, ao ponto de ter sido minha madrinha de casamento também. Vivemos momentos maravilhosos e inesquecíveis.

Os filhos devem sempre ter muito orgulho dela, que foi uma mulher especial para todos nós e agora só deixou a saudade que será eterna.

Embora longe, sempre amei a todos com muito carinho e só quero expressar meus sentimentos do fundo do coração.

Fiquem em paz, Mariana e Gustavo, porque ela era um ser de luz!"

Lembranças da prima Egle.

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"Como poderíamos pensar que, um dia, estaríamos digitando essas palavras?

Não, não há como expressar em palavras a dor da partida de uma prima querida e que estava sempre presente em nossas vidas.

Tivemos muitos momentos felizes que ficarão para sempre em nossas memórias e corações. Quando crianças fomos muito felizes e assim continuamos cada vez que nos encontrávamos. Ríamos das brincadeiras e das bobagens que fazíamos e também lembrávamos de nossa família. Relembrávamos os aniversários, o Dia das Mães, o Natal e outros encontros ...

Bebeth sabia e se lembrava de tudo sobre a nossa família. Preocupava-se em nos lembrar dos aniversários e nos contava histórias que aconteceram quando éramos crianças. Fazia assim, para que o elo familiar se mantivesse sólido.

Não foi à toa que, dando asas à sua vida de professora de História, resolveu organizar a genealogia das famílias para que soubéssemos de onde viemos. Ficava muito feliz toda vez que conseguia achar um ancestral.

Sabe, Bebeth, você está fazendo e fará para sempre muita falta em nossas vidas. Uma hora nos reencontraremos..."

Lembranças das primas Marisa, Lilian e Valeria.

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"Sabemos que o momento é de muita dor e perplexidade para todos nós. É muito difícil compreendermos os desígnios de Deus. Então, só nos restam a saudade e as boas lembranças; lembranças estas que estamos enviando aqui, para que sempre seja lembrado o quanto gostávamos de Bebeth e o quanto ela preencheu as nossas vidas de alegrias, exemplos e ensinamentos.

Ela era agregadora, tinha um humor refinado, era muito culta, inteligente e linda de viver. Sempre se destacou em tudo o que realizou.

Temos lembrança dos momentos agradáveis que passamos em Niterói, passeando pelas praias, em especial por Itaquatiara, onde tiramos fotos tão lindas... Foram momentos felizes.

Também lembramos com carinho quando ela e algumas sobrinhas estiveram conosco para nos dar apoio e conforto quando mamãe sofreu um AVC.

Sempre nos recebeu com muita alegria, como quando Rosana e Amanda estiveram em sua casa. Por fim, uma filha de ouro para a nossa querida tia Bertha e para o saudoso tio Zezé.

Poderíamos ficar aqui falando sobre Bebeth por horas, ela era uma pessoa especial e vai fazer muita falta.

Temos certeza de que ela já está junto ao marido e junto a todos os nossos queridos que já partiram. Também já deve estar tricotando com as tias e os tios, colocando o papo em dia; o céu está mais feliz, temos certeza.

Acreditamos que ela está em paz e feliz, e é isso o que nós desejamos para seus filhos Mariana e Gustavo: paz e alento para os seus corações. E as boas e alegres lembranças de uma mãe maravilhosa e que vai deixar muitas saudades. Deus os abençoe e os conforte, contem conosco."

Lembranças das primas Ana Lucia Almeida e Rosana Almeida.

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"Sei que ficarei com o coração quentinho a cada vez que me lembrar dela, pois Bebeth foi uma das mulheres mais fortes e alegres que conheci. Ela, apesar dos obstáculos, sempre iluminou o dia de todos e, mesmo não estando tão próxima de mim, fazia questão de estar sempre presente.

A ela, só tenho a agradecer por todos os momentos bons que me ofereceu."

Lembranças da sobrinha Ana Catherine.

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"Bebeth sempre foi uma pessoa agradável e que dava toda a atenção pra gente. Quando ela conversava com você, demonstrava interesse pelo que você estava falando e colocava seu ponto de vista com tranquilidade e respeito.

Todas as vezes que eu ligava pra ela era muito bem atendido. Às vezes, quando ela ligava pra nossa casa, antes de falar com minha filha Adriana, batia um grande papo comigo, sem eu estar esperando nada disso. Contava-me as novidades e dava notícias, até dos mais distantes.

Bebeth era muito preocupada com a família. Fazia questão de estar presente e em contato com todos.

Quando me lembrar dela, vou me lembrar da nossa amizade que foi muito boa e dos momentos em que estivemos juntos, que também foram sempre muito agradáveis.

Já estou sentindo a falta dela. Que Deus abençoe os filhos, os conforte e os proteja sempre!"

Lembranças do tio Sergio Oliveira.

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"Quando o balanço das horas
Desespera o coração
Freio alma, bato palma
Pra espantar algaração

Saudades! Não sei de que tempo. Todos tiveram sua marca desde o Pedro II. Naquela época eu andava questionando Deus e tu esbanjavas alegria de viver. Te admirava e, se não disse, estou agora a fazê-lo.

Depois, a distância geográfica foi aumentando, mas nunca nos separamos por intervenção da amiga em comum Eliana. A danadinha sempre me colocava a par das peripécias da turma que tratou de se reunir em diversas
ocasiões (estive numa dessas) e, novamente nos últimos anos, através do aplicativo de mensagens ─ foi excelente! Fora tua escapada inesperada do convívio, mas nunca das lembranças.

Em 2016, na ida a Brasília para o aniversário da Vera, tive a sensação de grande oportunidade para que aproveitássemos bastante. E o fizemos. Não sei se te recordas da estampa Van Gogh na camiseta da Vera, no aeroporto. 'A Noite Estrelada' ─ um dos meus quadros preferidos ─ foi o 'abre-alas' para um final de semana inesquecível. Carmem, Sonia Chi, Ana, Vera, você e eu brindamos efusivamente... E dançamos tanto rock!

Foi quando conheci tua filha Mariana, filha de 'peixa'. Muito bom ter esse tipo de convívio. Presencialmente, faltaram apenas o Gustavo e seu neto, mas teus arroubos e posts os tornaram próximos.

O que nos faz teia, Beth, tem sido também os momentos de dificuldades, ornados com o brilho da amizade e alguma coisa a mais. Esse algo a mais, em 2016, foi o turbante vermelho que usastes na festa da Vera. Estavas poderosíssima! Os detalhes e a fé que sustenta nos fazem seguir adiante.

Por enquanto, só poderemos nos visitar em sonhos ou preces. Que passes bem nessa viagem, que reencontres o amor de tua vida!"

Lembranças da amiga Sonia Alcalde.

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"Nossa história começou antes mesmo da chegada do nosso neto. Assim que minha filha Flavia e o Gustavo, filho dela, começaram a namorar, nasceu entre nós um forte laço.

Vó Beth e vó Malu sempre em contato, compartilhando o neto querido, trocando ideias pela rede social, pelo aplicativo de mensagens, em nossos encontros nas festas de família, nas apresentações escolares e também em alguns momentos muito difíceis para ela.

Nosso relacionamento foi coberto por carinho mútuo. Havia intercâmbio literário, troca de lembrancinhas de viagens, encontros regados por gostosas risadas da Beth, que estava sempre sorrindo. Era positiva, atenciosa e companheira.

Agora, despeço-me dessa querida pessoa, tão lutadora, vencedora de tantos desafios, e por quem tive realmente um carinho e um respeito muito grandes.

Nosso neto será nosso elo para todo o sempre. Ah, vó Beth, você já está fazendo muita falta por aqui..."

Lembranças da amiga Malu Perlingeiro.

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"Minha Rainha Elizabeth, adorável! Nunca me esquecerei da senhora. Que Deus lhe receba de braços abertos."

Lembranças da amiga Tania Lucia.

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Com uma linda e poética declaração, a amiga Maria Teresa Meloni encerra esta linda homenagem:

"A chamada...

Foram precisos sete dias,
o tempo de uma semana.
Muito e tão pouco preciosos
grãos no meio de anos.
Dias, horas e minutos que juntas passamos.
Mesmo longe e tão perto,
sempre o grande sorriso aberto
que de você emana.

Lembro-me ainda do rosto iluminado.
Dois olhos curiosos que brilhavam
na blusa alva do uniforme
que, com orgulho portavas.
Nos corredores, nas escadas...
Com um entusiasmo enorme.
formadas cantando o hino,
nós, as mais altas das turmas,
lado a lado estávamos.

Os anos eram mais dourados.
Eram tempos de rock’n roll,
as festas eram animadas.
Nas tardes dançantes, com que roupa eu vou?
Os cabelos em coque banana,
a cintura afinada.
Sapatos de salto cinco
e as saias bem rodadas.

Com passos firmes e seguros,
à frente do desfile estavas.
Empunhavas a bandeira.
Com alegria, cativavas.
Nos Jogos da Primavera,
eras sempre a primeira.

Cruzaste este país afora
atravessando a história.
Ciência que ministrou
em salas de ricos e pobres.
Amando, sonhando, acreditando...
Buscando o sentido da vida
em alguma causa nobre.

Além de filhos saudosos,
deixaste uma promessa no ar.
Virias em breve ao Rio para nos visitar.
Indo embora de repente,
sem sequer pedir licença,
ficamos sem brilho, chorosas...
sem querer acreditar
que vamos seguir em frente.
E, na hora da chamada,
Elizabeth... ausente."

Elizabeth nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Brasília (DF), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado por familiares e amigos de Elizabeth, Marcia Soares, Paulo Soares, Marilia Soares, Adriana Oliveira, Egle, Marisa, Lilian, Valeria, Ana Lucia Almeida, Rosana Almeida, Ana Catherine, Sergio Oliveira, Sonia Alcalde, Malu Perlingeiro, Tania Lucia e Maria Teresa Meloni. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Lígia Franzin, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 9 de maio de 2021.