1950 - 2021
Na época de praia durante as férias de verão, era a primeira a se organizar, sempre de malas prontas.
Ela era simplesmente radiante e amava a vida. Não tinha nenhuma ruga, ninguém acreditava quando a questionavam a respeito da sua idade. Sorria o tempo inteiro. Muito protetora, tanto que os seus pais e uma das irmãs mais novas contavam que se ela não gostasse de algum tipo de comida ou roupas, não deixava que dessem também aos irmãos.
A gaúcha saiu de casa com 14 anos e foi morar com sua tia em Santa Maria para ser babá. Visitava a família de três em três meses e nas férias escolares passava um mês com os seus entes queridos para saciar a saudade. Quando ela estava em casa o ambiente ficava cheio, seus tios e primos iam até lá somente para vê-la e ouvir as histórias divertidas, como os bailes que planejava ir com as amigas. Se não tivesse um baile para ir em determinado momento, ela criava o seu em casa ao reunir os amigos, surpreendendo o seu pai, que não tinha outra alternativa além de arrastar os móveis para que todos dançassem até o amanhecer.
Uma de suas irmãs mais jovens, Marli, sonhava em ser como ela. Quando ela saía em algumas ocasiões, a caçula aproveitava para vasculhar a mala da garota de espírito aventureiro que era repleta de utensílios bonitos, evidenciando o seu lado vaidoso que fazia questão de se destacar. A gaúcha possuía um comportamento um pouco arteiro, mas as suas travessuras eram bem intencionadas. “Meu pai na sua rigidez não deixava as filhas mais novas irem a lugar algum, mas ela, inconformada com nosso enclausuramento, fingia não poder sair sozinha por algum obstáculo que acabara de criar e assim o convencia de que precisava de nossa companhia, fazendo todas as nossas vontades”, relembra Marli.
Eloir e Marli possuíam uma ligação extremamente forte, brincavam como irmãs que não se desgrudavam, falavam de tudo, faziam confidências mútuas, faziam as refeições e iam para a igreja juntas, até mesmo adoeciam simultaneamente, cuidando uma da outra. A eterna aventureira, que residia em Porto Alegre, adorava seus filhos, seus netos e acabara de se tornar bisavó.
“A chamávamos carinhosamente de Tia Tê e Chimica. Não importa o pseudônimo que a batizamos, seu peculiar sorriso, sonhos, expectativas e alegrias permanecerão impregnados em nossos corações. Na manhã de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, nossa família se despedia de uma grande mulher que meus pais nos presentearam mesmo antes de nascermos, a minha linda e inesquecível irmã”, expressa Marli.
Eloir nasceu em Caçapava do Sul e faleceu em Porto Alegre, aos 70 anos, vítima do coronavírus.
Eloir nasceu em Caçapava do Sul (RS) e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela Irmã de Eloir, Marli Luiz Da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Matheus Ramos Pinto, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 18 de outubro de 2021.