Emerson da Costa Coelho

1945 - 2020

O moto-contínuo.

Esta é uma homenagem de Emerson da Costa Coelho Júnior para o pai:

"O cara morre, vira uma história, depois uma piada e depois é esquecido", era assim que o papai Seu Emerson falava se alguém contasse que um conhecido ou amigo tivesse encontrado o mal inevitável que chega a todos nós. Talvez fosse o jeito dele de dizer que tinha medo de ser esquecido.

Papai era assim: tudo resolvia, tudo fazia. Elucidava qualquer problema alheio em um rápido conselho: "Se não tem jeito, já está ajeitado", atribuindo a frase ao meu avô.

Assim, incansável em suas pelejas, orgulhava-se da teimosia. Nunca o vi desistir; em casos extremos, amarrava ali um pedaço de madeira com fios elétricos e pronto! E eu ali, seu ajudante, sempre segurando a luz.

Das muitas habilidades, foi empresário, vendedor, cantor, comediante de stand up e chaveiro, mas da que mais se admirava era de ser um "inventor de garagem". Foram muitas invenções, o seu maior legado para a humanidade seria o moto-contínuo, movido à gravidade; essa máquina salvaria o mundo, resolvendo os problemas energéticos. Passou anos desenvolvendo os planos para essa maravilha, inclusive as peças e a carenagem.

Enquanto ele ainda estava internado, fui à casa dele e, para minha surpresa, estava lá em sua oficina montada a engenhoca. Empolgado para dar partida neste salto de tecnologia, dei a ignição no motor que deu uma volta e na segunda desmantelou-se todo em sua mesa. Depois que voltar, ele conserta, pensei. Não foi o que aconteceu, ele nunca mais vai consertar.

Talvez papai não soubesse, mas ele mesmo era um moto-contínuo. De contínuas risadas. Sempre foi perseverante em seus muitos conselhos e nos ensinou a nunca desistir. Ele, por sua vez, resistiu até o fim. Essa admiração só existe nos olhos de quem ama, e eu o amava muito e jamais o esquecerei.