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Enilson de Carvalho Vidal

1954 - 2020

Caminhava ao lado da mãe de braços entrelaçados. Mudou de vida para estar mais perto dos bichos e plantas.

Enilson foi uma pessoa que marcou a vida de todos os seres que viveram ao seu redor e puderam partilhar da vida no mesmo espaço-tempo, fossem eles pessoas, bichos ou plantas. Ele distribuiu afeto a tudo e todos a quem amava. Buscou o seu melhor lugar no mundo, e assim semeou saudade.

Desde sempre apaixonado por uma vida tranquila, quando pôde, largou a vida na capital do Rio de Janeiro e seguiu para o interior do estado, foi para uma cidadezinha chamada ‘Natividade’, onde chegou de braços dados com a mãe Floripedes, sua maior companheira de vida. “Ele sempre quis ter a vida num lugar menor e mais sossegado. No Rio eles moravam em apartamento e ele não podia ter todos os animais e plantas que desejava, dizia que amava morar lá”, relembra Glória, esposa do sobrinho Ricardo, esse que foi como um irmão mais novo, muito amado por Enilson.

Seria impossível falar da jornada de Enilson sem mencionar sua amada mãe, a dona Floripedes, essa que viveu 101 anos e recebeu uma vida de amor e dedicação do filho, teve Enilson como um leal companheiro até sua partida. Era ele quem a ajudava a escolher suas roupas e penteava seus cabelos com o maior carinho do mundo.

“Ele tinha um orgulho de andar com ela sabe? Eles saiam para almoçar final de semana, e era ela de braço dado com ele, e assim ele saía todo orgulhoso com a mãezinha dele. Ele teve um amor imenso e um carinho muito grande em cuidar dela até o fim.”, relata Glória.

Enilson fez questão de fazer uma festa em comemoração aos 100 anos de sua mãe Floripedes, conseguiu reunir vários familiares para o momento que foi uma verdadeira celebração desse imenso trajeto de vida. Pouco mais de um ano depois, a mãezinha completou seu ciclo neste plano, um dos momentos mais difíceis para Enilson. “Ele sentiu bastante a perda dela, mas todo esse amor que ele teve à ela, todo o amparo e cuidado, foi muito bonito”, ressalta Glória.

Enilson foi um ser humano lindo não só para sua mãe, também dedicou afeto à muitos bichos e plantas. Segundo o sobrinho Ricardo, Enilson compreendeu o carinho aos animais através do pai Nilton, "foi do meu avô que ele herdou esse sentimento pelos animais, o afeto, esse cuidado", declara o sobrinho, que teve Enilson como um irmão mais velho ao ser criado pelos avós desde muito pequeno.

“Ele era apaixonado pelos animais, tinha muitos cachorros, gatos, passarinhos, até galinha ele tinha em casa. De vez em quando ele dizia ‘nã, não quero mais’, aí ele via um cachorrinho abandonado na rua e já levava para casa, cuidava e criava”, conta Glória, trazendo também a memória dos cachorros Thor e Shakira, um labrador, e uma vira-lata que ‘se rebolava toda’. “As galinhas que ele tinha, inclusive umas d'angola, nunca era para matar e comer, ele só cuidava e criava porque amava.”, recorda a esposa do sobrinho.

Um sentir tão verdadeiro como foi o de Enilson, será sempre memória viva aos que entregou amor. De braços dados com sua mãe, agora estará eternamente. É fato que seu cuidado continuará no cheiro das plantas que enchiam a casa de cor, e nos latidos dos cães da rua a que ele tanto entregou um olhar terno.

Enilson nasceu em Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Itaperuna (RJ), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho e pela esposa do sobrinho de Enilson, Ricardo de Oliveira Rangel e Glória Denise de Menezes Torres. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Criles Monteiro, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 22 de maio de 2021.