Sobre o Inumeráveis

Eronides Ferreira da Cunha

1954 - 2020

Escolheu a profissão que forma todas as outras profissões, e era muito feliz fazendo o que amava.

Professor de História, Geografia e Religião aposentado, ensinou aos alunos muito mais do que matérias escolares, lecionou sobre amor e afeto. Foi tutor do Projeto Logos II e gestor escolar por muito tempo, mas amava mesmo era dar aulas. Foi educador dentro e fora das salas de aula, mestre na escola da vida, sábio e cativante professor.

Casado com Maria Jozelia por trinta e nove anos, sem contar os seis que tiveram de namoro. Ao todo foram quatro décadas e meia de união, repletas de amor, cumplicidade e respeito. Os dois eram unha e carne, estavam sempre juntos. Passaram por muitas situações difíceis ao longo da vida, mas nenhum problema era tão grande que uma dose de amor não pudesse resolver.

Juntos, tiveram os filhos Enio, Joênia e Emerson, que aprenderam com os pais a importância da educação e da honestidade; além do valor das coisas simples e belas da vida. Conheceu ainda uma outra face do amor quando se tornou avô de Mariana, Lara e Maria Elisa, as netas que o professor tanto mimou e amou.

Homem de fé, nunca desacreditou dos planos de Deus. Quando não estava reunido com a família, com certeza estava na igreja servindo a Deus de alguma forma. Era ministro da Eucaristia, devoto de São João da Cruz, e aprendeu com o santo os valores da humildade e da bondade. Sempre pedia aos familiares e amigos que aceitassem a vontade do Senhor, porque sabia que os propósitos d’Ele sempre são os melhores, e que os caminhos podem até parecer tortos, mas nunca estão errados.

Cativante e muito querido, várias amizades foram conquistadas por ele ao longo da vida com seu jeito sábio e calmo. Encantado e dedicado à literatura, sabia apreciar uma boa leitura. Lia com admiração os livros de Machado de Assis e não abria mão das leituras religiosas da Bíblia ou de uma biografia de alguma figura religiosa. Amava pescados e gostava muito de tomar leite.

Foi um avô tão especial que partiu no Dia dos Avós (dia de Santa Anna e São Joaquim, avós de Jesus). Familiares e amigos sentem sua falta todos os dias.

Eronides deixa saudade em todos que conheceram o professor que ensinava com amor, o marido que zelava com amor, o pai que cuidava com amor, o avô que mimava com amor. Foi amor da cabeça aos pés e, por isso, São João da Cruz está agora mais tranquilo: tem uma companhia responsável e muito amorosa ao lado.

-

Homenagem do filho, Emerson, ao seu amado pai:

Meu pai era um ser humano extraordinário, uma alma iluminada. Um episódio muito marcante foi uma vez, em um feriado de Natal, nós estávamos na fazenda do meu avô; meu pai me chamou pra entrar no carro e disse "Filho, isso tudo que você vê aqui é fruto do trabalho do seu avô, foi ele que conquistou. Mas, o mundo não é só felicidade; tem muita gente que passa necessidade, passa fome. E hoje nós vamos ajudar uma família que está passando necessidade."

No porta-malas do carro havia uma feira completa, muitos alimentos, graças a Deus. Nós fomos até uma casa, próxima da fazenda, na zona rural. Quando entramos na casa, encontramos uma senhora e duas crianças; o marido tinha ido pescar. Sobre o fogão tinha só um pouco de caldo de feijão e arroz; essa é que seria a ceia de Natal daquela família. Então, nós tiramos da mala do carro a feira farta que meu pai havia providenciado para aquela família. A senhora, muito emocionada disse "Vocês trouxeram a fartura de alimentos para minha casa, para nossa ceia; eu só posso agradecer a Deus e abençoar muito vocês.", e meu pai respondeu "Isso já é o suficiente. A bênção de Deus na nossa vida já é suficiente."

Essa história marcou muito a minha vida. Toda vez que me lembro dela me emociono. Meu pai foi um ser humano cheio de bondade, um homem incrível. Na região onde moramos, no interior, ele é muito conhecido. Mas, não é só conhecido, ele é amada por muitas pessoas, porque ele realmente foi uma pessoa admirável

Eronides nasceu em Campina Grande (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Eronides, Joenia Elane Macedo da Cunha. Este texto foi apurado e escrito por jornalista , revisado por Ana Macarini e moderado por Lígia Franzin em 21 de julho de 2021.