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Etelvino de Bortoli

1951 - 2020

Ao raiar do dia, já estava nas ruas para ver os amigos; se pudesse apostar com o Sol, na certa ganharia.

Ele era uma pessoa simples, daquelas que se sentem à vontade com seus chinelos. Honesto, carismático e extrovertido, ninguém o conhecia pelo nome de batismo: Etelvino. Todos o chamavam de Djhen. "Curtia jogar baralho em companhia de amigos e, sempre que podia, fazia uma fezinha no bolão", conta a filha Marília.

Filho de agricultores, seu Olímpio e dona Rosina, Etelvino passou a infância no interior, no município de Seara, junto com seus dez irmãos. Para estudar, ele se deslocava a pé ou no lombo de um cavalo até o centro da cidade, onde cursou até o segundo grau (equivalente ao atual Ensino Médio), formando-se técnico em contabilidade. Como era bem envolvido com a comunidade, tinha diversos amigos, e foi em um baile de interior que ele conheceu a Ivete.

No primeiro encontro, ele a tirou para dançar, e esse momento foi marcante: impossível esquecer o pisão que deu nos pés dela durante a dança. Dessa história de amor, vieram os filhos Marília e Renan.

Foram 28 anos de parceria, em todos os sentidos. Ambos se dedicavam ao trabalho para que não faltasse nada em casa, e estavam sempre preocupados com a educação das crianças. Mesmo com todas as dificuldades da vida e ganhando pouco, Etelvino se orgulhava de terem conseguido garantir os estudos dos filhos, erguerem sua casinha e, nela, constituírem seu lar, lembra a esposa Ivete.

Funcionário público estadual, Etelvino sempre trabalhou em órgãos voltados à agricultura do município de Seara, em Santa Catarina. Nos fundos de sua casa, ele cultivava uma horta onde costumava plantar milho, alface, jabuticaba, chuchu e morangos, e sempre que a colheita era farta, distribuía para os vizinhos.

Djhen amava crianças e, como estava aposentado, ficava radiante quando os pequenos vizinhos vinham brincar no quintal de sua casa, de tardezinha. Já nos finais de semana, ele se dedicava ao futebol, com direito a tudo, até uniforme, principalmente a camisa do Grêmio, time do coração. Com o filho, ele assistia futebol no campo do Juventus, nos estádios ou em casa, quando seu time jogava.

O que Etelvino gostava mesmo era de estar junto das pessoas, assar churrasco, peixe na grelha, de viajar para o litoral ou para o Pantanal pra pescar com um grupo de amigos e a família; calçar suas botas e cuidar da horta. Ele não conseguia ficar muito tempo parado; estava sempre fazendo algo, e quando não havia o que fazer, inventava alguma atividade. "Era esse o espírito dele", diz o filho Renan.

Etelvino deixa amigos, sua família, uma porção de lembranças doces e muita saudade.

Etelvino nasceu em Seara (SC) e faleceu em Concórdia (SC), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Etelvino, Marília Camillo de Bortoli. Este tributo foi apurado por Daniel Ventura Damaceno, editado por Rosa Osana, revisado por Elias Lascoski e moderado por Ana Macarini em 13 de dezembro de 2021.