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Eudes Cecília Coutinho

1962 - 2021

Sua presença segue viva nas belezas traçadas por suas mãos em móveis, jardins e delicadezas espalhadas pela casa.

Ela gostava de ser chamada de Cecília e quem a tratava por Eudes era somente sua mãe, quando estava brava.

Era a mãe sempre superprotetora de Pedro Augusto e Yndyanara. “Quando estávamos longe, ela queria saber cada passo que dávamos. Mesmo após adultos, só dormia quando sabia que já estávamos em casa. Durante toda a vida ela demonstrou o seu amor por nós preparando comidas e dando presentes. Dificilmente voltava para casa sem algo a nos oferecer, ainda que fosse uma broa da padaria”, conta a filha.

Era uma verdadeira artista, pintora e jardineira. “Era ela quem dizia qual cor eu deveria colocar na minha parede”, conta a filha.

Trabalhava como decoradora de interiores e estava se especializando em paisagismo. Entretanto, não se limitava a isso: era muito criativa, desenhando até os móveis dos seus projetos.

Apesar de não ser arquiteta, era sempre procurada pelos arquitetos da região para ajudá-los com suas ideias. Estava prestes a criar sua própria marca de móveis, com ajuda da filha. Dizia sonhar com os móveis, que depois passava para o papel e mandava fabricar.

Criativa, ia para fazendas, entrava no mato e nunca saía de lá de mãos vazias: sempre havia um "cipó lindo", que ela trazia consigo e, com sua habilidade de ver as coisas além do que realmente eram, transformava o achado em algum objeto que os outros só conseguiam compreender depois de pronto.

Possuía também habilidades culinárias e gostava de cozinhar, especialmente aos domingos. Era quando fazia alguma receita com peixe, preparada de forma a tornar-se famosa entre os familiares e amigos, fazendo com que jamais comessem nada parecido caso fosse feito por outras mãos. Assim, tornaram-se inesquecíveis as suas receitas de pescado e a “maçã da Mônica”, já que ela gostava apenas dessa maçã. Com interesse especial por essa área, nas horas vagas, passeava com as amigas indo a restaurantes, geralmente um novo, para experimentar culinárias diferentes.

Eudes era dona de uma personalidade sincera, simples e elegante. Tinha um bom gosto absurdo. Amava estar rodeada das amigas, amava o mar e a praia. Para ela, os filhos eram o seu maior orgulho e os ensinava a cumprimentar pessoas que nunca haviam encontrado, mas que os conheciam de nome, devido ao tanto que ela falava sobre eles para todo mundo. Ela era também uma apaixonada pelo pai, Oswaldino.

Dona de uma fé inabalável, acreditava muito em Deus! A certa altura da vida, desenvolveu uma doença autoimune que debilitou os seus joelhos. Ela ficou com dificuldade para andar, mas ainda assim era grata. Sobre sua fé, Yndyanara conta: “Várias vezes eu a escutei orando a Deus, pedindo que restaurasse sua saúde por completo e dizendo que, se não fosse possível, ainda assim, seria grata pela vida. Uma frase que ela sempre falou para todos, fossem familiares ou amigos era: "Fica em paz, Deus está no controle". Diante de adversidades isso realmente trazia serenidade e permitia que ela superasse suas dificuldades”.

Quando se trata das lembranças deixadas por Eudes, elas são inúmeras e algumas meio inusitadas — como esconder dinheiro entre suas cosias, porque não confiava em banco. Por vezes, até esquecia onde e quanto havia guardado, fazendo a filha ter que procurá-lo. Dentre as recordações, a filha ainda destaca: “Mamãe era muito caprichosa. Aprendi com ela escolher até lençol da cama. Além disso, foi ela quem me fez ser apaixonada pelo mar, era o nosso programa favorito quando estávamos juntas. Desde criança, sempre que podia, ela me levava mar adentro, pois, queria que eu não tivesse medo dele”.

Os sonhos que Eudes mais acalentava eram ser avó e lançar a sua tão desejada marca de móveis.

Yndyanara conta ainda ter aprendido com a mãe “que o importante na vida não são as coisas, mas as pessoas". Ela continua: "Minha mãe era muito carismática, tinha muitos amigos e, quando se foi, pude perceber isso na sua despedida. Nenhum bem material estava presente no seu funeral, mas sim as pessoas com as quais conviveu e que a amavam”.

Concluindo, diz Yndyanara: “O coronavírus levou minha mãe, meu avô e minha avó. Tenho vivido com a ausência da minha mãe, cercada pelas fotos que suas clientes me enviam, pelos móveis que ela fez, pelos jardins que ela criou. Deixou em todos uma grande saudade pela sua ausência, mas também sua presença, por seu trabalho ímpar".

"Te amo, mãe!”

A mãe e o pai de Eudes também foram vítimas da Covid-19. Para conhecer um pouco da história deles acesse as homenagens a Regina Cunha Coutinho e Oswaldino Luiz Coutinho neste Memorial.

Eudes nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu em Jaru (RO), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Eudes, Yndyanara Camargo. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 7 de maio de 2023.