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Eunice Licia de Alcântara Couto

1947 - 2020

Poetisa, dedicava versos aos familiares e compunha hinos para louvar ao Senhor.

Ela era de uma linhagem de artistas. Mesmo sem muita escolaridade, o pai escrevia poesias e a mãe compunha hinos para a igreja. Seu talento também era uma forma de louvar o Senhor, além de uma maneira de demonstrar afeto. A neta Victoria guarda com carinho os versos que a avó lhe escreveu. E foram inúmeras as cartas endereçadas a seus amores. A veia artística de Eunice continuou a pulsar nas gerações seguintes: Victoria compõe e escreve, assim como as irmãs, algumas primas e outros familiares.

Com a avó, Victoria compartilhava muito mais do que esses dons. Desde pequena, passava todo tempo que podia em sua casa, onde um berço fora colocado para Eunice pajear a menina enquanto os pais trabalhavam. Ela amava relembrar as peraltices desse tempo. E as duas continuaram juntas por toda a vida. "Minha avozinha era minha amiga e como uma mãe para mim; meu entendimento com ela era único. Foi meu maior exemplo de amor", conta Victoria.

A fluminense Eunice amava a natureza. Por isso, chegou a alugar uma casinha em Sampaio Correia, bem perto de uma cachoeira, com acesso por estrada de terra. Ficava dias ali, afastada da civilização, sem sinal de celular. Cultivava muitas plantas no local, assim como fazia em outros lugares. Era uma grande apreciadora de flores, especialmente de rosas.

Viajar também estava entre as atividades preferidas de Eunice. "E certa vez, durante as longas horas de um voo que fizemos para os Estados Unidos, ela ficou o tempo todo segurando as minhas mãos", conta Victoria.

E os outros netos? Eram muitos, e também amavam a vovó, de quem recebiam um afeto infinito. Ela parecia um personagem de filme: fofinha na aparência e no jeito de ser. Entre os lugares comuns e deliciosos da "avosidade", estava a constante disposição para ajudar todos. Tinha uma energia contagiante e sempre acreditava que os projetos dos filhos e dos netos dariam certo. Era uma grande incentivadora!

A grande família de dona Eunice foi constituída com seu Zilor. De alguma forma conectados, eles partiram na mesma data, com um ano exato de diferença. Juntos, eles tiveram quatro filhos: Graziela, Andrea, Leonardo e Sérgio. Ela também cuidou do irmão, Elias, como filho. Ele tinha microcefalia e sempre recebeu o amparo da irmã. A alma caridosa de Eunice não se estendeu apenas aos mais próximos, mas também a instituições beneficentes, que ajudava sempre.

Nos últimos meses de vida Eunice mudou-se para perto de Victoria. Não raro, a jovem pedalava até sua casa para dormir com ela. Gostava tanto de ter a avó por perto que a proteção de tela do celular era uma foto de Eunice. E no telefone da avó, a foto era da neta. Quando os outros netos perguntavam qual era o preferido, Eunice desconversava; mas, na agenda do celular, Victoria estava como "Neta Preferida"...

Victoria guardou vários pertences da avó para ter como recordação. Guarda também outras lembranças e imagens que fazem o amor da avó permanecer. Ela acredita que Dona Eunice está nas flores e borboletas que tanto gostava. E está em cada batida do coração de quem tanto a amou.

Eunice nasceu em Maricá (RJ) e faleceu em Maricá (RJ), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Eunice, Victoria Couto Sarlo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 3 de setembro de 2021.