1945 - 2021
Uma vez, causou uma explosão de garrafas, fazendo experimentos na produção de vinhos. Riu muito da peripécia.
Começou a trabalhar ainda bem jovem na venda de coelhos, em São Paulo. Além disso, à noite dedicava-se ao restaurante da família. Como bom italiano servia capeletti, frango à passarinho e polenta frita que eram a especialidade da casa - pratos típicos da culinária do país banhado pelo Mediterrâneo.
Era dedicado em tudo que fazia: passou no vestibular para Medicina aos 18 anos, contudo as condições financeiras não lhe permitiram formar-se médico. Apesar disso, como desde os 14 anos trabalhara em uma indústria química, foi contemplado com uma bolsa de estudos no curso de Química, subsidiado pela empresa. Anos mais tarde, a consequência advinda de seu trabalho e dedicação não surpreenderia: chamava-se Ezidio o são paulino fanático promovido a um cargo de direção na empresa, sendo o primeiro brasileiro a conquistar a posição tradicionalmente ocupada por alemães.
Conheceu a esposa no restaurante da família e, apesar de viver boa parte da vida na grande São Paulo e tendo tido a oportunidade de conhecer inúmeros países, seu coração sempre bateu mais forte pelo interior do estado: aposentou-se e foram morar em Leme, onde cultivou plantas, alimentos e boas memórias. Qualquer pessoa que por ali passasse vislumbraria sua paixão pela natureza: havia uma infinidade de hortaliças e temperos que fariam parte do seu cardápio aos domingos, junto com a sagrada polenta frita para toda a família. Criava, inventava, cavava lagos para peixes, fazia grappa - uma bebida alcoólica de origem italiana que é feita a partir de bagaços de uva. Aliás, Ezidio possuía uma relação peculiar com o vinho: em uma de suas produções próprias errou a fórmula, e a explosão de garrafas que deveria ter sido considerada uma tragédia, era motivo de risadas e histórias para contar. A esposa nunca esqueceu!
Amava acompanhar esportes e notícias, estava por dentro de tudo e gostava de novidades. Dispunha-se a experimentar absolutamente todo e qualquer alimento, não tinha nada que ele não gostasse de comer e às vezes a comida nem fazia sentido, como saborear pão com alface e maionese no café da manhã, por exemplo.
Não havia como esquecer nada que era relacionado a ele. Amou a vida e dedicou um profundo amor aos seus: cultivava plantas para dar de presente de aniversário para a esposa, que por décadas despertava pela manhã com uma xícara de café com leite preparada pelo amado. O amor era sua rotina de vida. Cuidava de seu jardim para presentear as mais belas flores de sua vida: a esposa, a neta e suas filhas.
Ezidio nasceu em São Bernardo do Campo (SP) e faleceu em Araras (SP), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Ezidio, Fernanda Morassi de Carvalho. Este tributo foi apurado por Emily Bem, editado por Ana Macarini, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 24 de setembro de 2021.