Sobre o Inumeráveis

Ézio Dário Batista

1939 - 2020

Um encantador de pessoas. Amor ao próximo, trabalho árduo e dedicação à família: eram seus lemas de vida.

Era um empresário bem-sucedido, mas denominava-se "bodegueiro". Começou a vida vendendo cocada na feira da sua cidade natal. Nasceu no Sítio Lajeiro, zona rural da cidade.

Ainda adolescente, deixou sua terra para viver no Recife. Vendia de tudo: flores, frutas, verduras, frios e estivas. Chegou até a montar uma quitanda e atingiu o patamar de ser um renomado supermercadista. Foi também diretor da associação da classe.

Casou-se com Dona Nalva, com quem teve cinco filhos, mas tinha mais uns 11 agregados.

Era o mais velho, de 11 irmãos, o esteio dos irmãos, filhos, sobrinhos e amigos. Para tudo e para todos, sempre tinha uma solução, um afago e uma palavra de conforto.

Sendo um torcedor ferrenho, só se referia ao Náutico como "A Máquina Mortífera". Era fã do programa de rádio do Geraldo Freire. Não tinha um dia que não estivesse com seu radinho no bolso ou por perto para acompanhar o programa.

Sua casa era um abrigo para parentes e amigos e até mesmo para os amigos de amigos. Ele recebia pessoas que vinham do interior para tratamento de saúde e parentes que precisassem estudar na capital. A casa estava sempre aberta.

Era um encantador de pessoas. Adorava criar apelidos para todos e ninguém reclamava. Ézio não chamava ninguém pelo nome. Tinha um vocabulário peculiar, só seu. Ao longo da vida criou vários bordões próprios, que foram reunidos recentemente em um dicionário — uma homenagem da filha mais nova a ele.

Tinha centenas de afilhados. De uma vez só, batizou 90, num evento coletivo da igreja que ajudou a erguer, no bairro onde viveu e construiu seu negócio.

Era agregador, festeiro, acolhedor. Um homem que exercia a fé, na prática. Um contador de histórias. Onde ele estivesse, sempre havia muitos reunidos ao seu redor para ouvir e aprender com seus ensinamentos e prática.

Vaidoso, tinha que combinar roupa, sapato, meia e sair exalando o cheiro amadeirado do perfume. Tinha que ser cheiroso, sempre!

Um exímio jogador de sinuca. Poucos batiam seu placar. Era um homem que sabia o real valor e praticava o exercício da amizade todo santo dia. Era amigo dos amigos, da família e dos clientes.

Um pai e avô que chegava a ser controlador, de tanto que zelava pelos filhos e netos. Sabia dos problemas de cada um e cuidava de cada um individualmente. Fazia com que se sentissem especiais e únicos pela maneira que ele os tratava.

Tinha mais de 80 anos e não tinha rugas nem rusgas com ninguém. "Nunca o vi se indispondo ou brigando com alguém. Era a pessoa mais conciliadora que conheci", diz sua filha Simone, que ele chamava de Patinha.

"Até sua voz era conciliadora. Um tom aveludado, firme e serena ao mesmo tempo", conclui Simone.

Ézio nasceu em Sanharó (PE) e faleceu no Recife (PE), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Ézio, Simone Maria Xavier Batista. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Marilza Ribeiro, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 31 de julho de 2020.