1980 - 2021
Tatuador, deixou marcada a sua arte na pele de milhares de pessoas. E seu amor no coração de muitas outras.
Fábio foi um menino bem sossegado quando pequeno. Sua mãe lembra que além de ser muito estudioso, passava boa parte do dia desenhando. No entanto, quando ele saía era pra se divertir! Jogava bolita com outras crianças e também, bombinhas pra assustar os adultos com o barulho.
Na pré-adolescência, ele e seu irmão moraram com as tias por algum tempo, e elas cuidaram dos dois com muito afeto. Nessa época, as tias se lembram que o talento de Fábio pra desenhar ficava cada vez mais aflorado. Ele fazia muitos dragões, desenhos que eram famosos entre os adolescentes daquela geração.
Com 14 anos, Fábio começou a trabalhar como eletricista com seu tio, que ensinou pra ele tudo sobre o ramo. Nessa época ele conciliava o trabalho com os estudos, e sempre com um enorme desejo de mais, abriu com o irmão um empresa de elétrica e hidráulica.
Mas a paixão pelos desenhos ainda era muito grande. Foi quando Fábio aperfeiçoou sua técnica e tornou-se tatuador, um dos melhores de sua cidade. Assim, ele saiu da empresa com o irmão e passou a se dedicar exclusivamente as tatuagens.
A vida foi acontecendo e Fábio casou-se com Susana. Juntos, eles tiveram quatro filhos: Kelin, Erick, Nicolas e Manuela. A união durou quatorze anos.
Fábio também teve outro filho, o Enzo, fruto de uma rápida relação com Evelyn.
Em 2013 ele conheceu a Pamela, no estúdio de tatuagens, como ela se recorda: "Fui no estúdio com uma amiga pra ela se tatuar e achei ele lindo, maravilhoso. Passei aquela noite inteira procurando ele nas redes sociais até descobrir que ele não gostava de redes! Tive que pedir o telefone dele pra outro tatuador pra enfim, começar a conversar com o Fábio por SMS."
A relação entre os dois evoluiu rapidamente e em poucos meses eles tiveram uma filha, Milena. Em 2014 oficializaram a união e três anos depois veio Miguel, o filho mais novo. "Fábio foi o marido que me trazia café na cama todos os dias. Um pai maravilhoso, presente na vida dos filhos".
Fábio fazia um meio termo entre o pai brincalhão e o linha dura. Kelin sempre fazia companhia no estúdio, mesmo quando passou a morar em outra cidade nunca deixou de visitá-lo. Erick teve o pai como seu melhor amigo, ouviam rap juntos e se vestiam da mesma forma. Com Nicolas, Fábio assistiu todos os filmes que podia. Manuela também estava no estúdio sempre que podia. E com Milena e Miguel, Fábio viveu a fase dos parquinhos e pracinhas, como se recorda Milena: "Quando papai estava aqui na Terra ele me levava muito pro parquinho".
Outra característica forte nele foi a bondade. "É clichê falar que ele era uma pessoa que gostava de ajudar as pessoas, mas é real, servir e ser útil foi o que ele fez de melhor." conta Pamela que também se emociona ao lembrar que no último Natal de Fábio, o afilhado Dennis o tirou no amigo oculto e ao revelar disse "O meu amigo secreto é uma pessoa que gosta muito de ajudar outras pessoas". E gostava mesmo. Se Fábio soubesse que algum conhecido estava com problema elétrico em casa, ele logo chegava pra arrumar. Carona? Ele oferecia a quem precisasse. Cortava o cabelo do avô de Pamela e até mesmo o dela! Em épocas festivas, Fábio tatuava até tarde no estúdio e em seguida ia ajudar Pamela com os presentes personalizados que ela vende: "Muitas vezes ele bordou camisetas com pedraria pra me ajudar com os pedidos. Pra ele, nada era difícil."
Fábio, que em vida assumiu ter medo de ser esquecido, certamente está feliz em saber que toda a família, amigos e clientes sentem orgulho por tê-lo conhecido, contam boas histórias a seu respeito e sabem que a saudade é apenas de momentos bons que viveram com esse homem tão do bem.
Fábio nasceu em Canoas (RS) e faleceu em Canoas (RS), aos 40 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Fábio, Pamela Andreoti. Este texto foi apurado e escrito por Rayane Urani, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 19 de junho de 2021.