1973 - 2020
Jogava videogame com os filhos e idealizou o aplicativo Monitora Covid-19. Fazia piadas e salvava vidas.
A devoção de Carmen e Diógenes por São Judas Tadeu fez chamar o primeiro fruto deste amor de Fábio Tadeu.
O xará do santo nasceu no dia 13 às 13h, e em seguida foi para o quarto 13. Quando viajava, a maioria dos quartos em que se hospedava terminavam com o número 13. A sua torcida era para o Treze Futebol Clube. Seu filho, Matheus, usa a camisa de número 13 em campo.
Foi ministrando aulas de informática que Fábio conheceu uma aluna chamada Christiane. Com o fim dos estudos, nunca mais haviam se visto. Passados alguns anos, o professor e a aluna se reencontraram. Esse momento transformou a relação, antes escolar, em amor. Fábio e Chris namoraram durante quatro anos, noivaram e, depois de um ano — em 2005 — eles se casaram. Eles se completavam, tipo tampa e panela. Gostavam das mesmas coisas: farras, viagens, amigos e família! Ahh, família... Matheus, 12 anos, e Lucca, 8 anos, são frutos desse amor.
Nas festas em família, todos ficavam ansiosos, mas não era por conta da data ou da comida, e sim pela chegada do Fábio. Era ele quem começava a bagunçar, a fazer brincadeiras e a animar as festas. Talvez ele fosse o tiozão do "É pá vê ou pá comê?" Não, não era não. Ele era o tiozão do "Tu, pra mim, é problema teu!"
Fábio amava a praia, os passeios 4x4, o kitesurf e, mais ainda, acompanhar os filhos e os amigos (dos filhos) nos jogos de futebol. As idas aos jogos não eram animadas apenas para os adolescentes, mas para o garotão Fábio também, que se divertia ao som do brega funk — um ritmo contagiante de alegria misturado com amor e passinho, claro. “Vocês vão tá aqui. Então, vocês atacam em massa e voltam em bolo. E é só cantar, que tudo é festa papai!”, era o jeito divertido que Fábio explicava a partida no quadro tático. Em seguida, a criançada (incluindo Fábio), gritava: “Tiro de escopeta, tiro de canhão / Pra ganhar do The Kings tem que ter disposição / A bomba explodiu e o céu escureceu / Ih, f****! O The Kings apareceu!”
“As idas com meu pai para os jogos eram muito emocionantes. Ele me incentivava muito e me ajudava muito com meus erros. Falava pra o que era pra fazer e me ajudava em tudo. Ele vai fazer muita falta, porque não vai mais me ajudar, não vai mais poder fazer tudo o que ele fazia comigo...”, conta o filho Matheus emocionado.
Estupidamente agregador. Fábio sempre gostou de ter muitos amigos e os familiares por perto. Ele gostava de casa cheia. Fazia da sua moradia o maior acolhimento para os amigos e, principalmente, para os amigos dos filhos. Nos encontros, a massa do macarrão ficava por sua conta, e não dispensava a ajuda da garotada. Ele fazia o "MasterChef" dele: cada casal tinha que preparar um prato. Você falou campeonato de videogame? Fábio também fazia. Juntava os seus amigos, os da sua idade e os da idade dos filhos, e viravam a noite jogando. Realmente Fábio gostava de casa cheia. “Cola em mim que é sucesso”, era o que sempre dizia.
Lucca, o filho mais novo, lembra-se do pai com carinho: “Vou sentir falta do meu pai jogando videogame comigo, e das nossas viagens juntos!”
Nas mídias sociais, foram várias as homenagens ao amigo. O Carlito escreveu: “Hoje a humanidade perde um pouco de sua luz, hoje uma pessoa extraordinária deixa o nosso convívio para iluminar os céus”. A Naiara disse que é muito difícil dizer até logo para o Fábio, agradeceu pela "amizade sólida e parceria sem limites" e disse que Fábio “é energia vibrante, sorriso constante, uma verdadeira festa em nossas vidas”.
Esse Tadeu não era santo, mas era muito caridoso. Sempre fazia questão de ajudar as pessoas carentes. No último Natal, recebeu o convite de sua amiga para ser o Papai Noel e aceitou a proposta na mesma hora. Fantasiou-se e entregou os presentes e alimentos, fazendo a alegria daqueles que não tinham motivo para comemorar.
Um dia antes de aparecerem os sintomas da doença, gravou, sem saber, um dos seus últimos vídeos divertidos para um aplicativo de mídia usado para compartilhar vídeos curtos, no qual desenhava diferentes estilos de barba com o barbeador.
Desde os 17 anos, trabalhou com Tecnologia da Informação, desenvolvendo softwares, principalmente para a área da Saúde. Idealizou vários aplicativos, como o "Xô Aedes", que ajuda no combate aos possíveis focos do mosquito Aedes aegypti; o "AtendSaúde", que facilita o trabalho dos agentes comunitários de saúde no combate às endemias e, por último, o "Monitora Covid-19", que oferta atendimento e orientação médica à distância, por meio de uma equipe de médicos e enfermeiros, exercendo uma ação estratégica de cuidado e assistência.
Fábio trabalhou incansavelmente no combate à Covid-19. Sempre na linha de frente. Mas, ironicamente, o idealizador do Monitora Covid-19, que ajudou e ajuda milhares de brasileiros, faleceu da doença.
O amigo e neurocientista Miguel Nicolelis, coordenador do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, escreveu: "Um herói do combate ao coronavírus no Brasil nos deixou. RIP Fábio Guimarães. Estamos todos abalados com a perda de um grande amigo e colaborador inestimável. Um abraço fraterno a todos os seus familiares".
Depois da partida de Fábio, o número 13 acompanhou a esposa. Quando ela saiu do velório, o relógio do carro marcava 13:13. Quando ela saiu de casa pela primeira vez, na companhia do pai de Fábio, para resolver umas burocracias, o número da sua ficha de atendimento era 13. Quando deu entrada no INSS, demorou para o sistema registrar... quando registrou, foi no dia 13.
O número 13, para os católicos, tem um significado importante: é uma data mariana. De acordo com os testemunhos das três crianças videntes de Nossa Senhora, a primeira aparição da Virgem Maria ocorreu no dia 13 de maio — data que Fábio veio ao mundo. A aparição de Nossa Senhora se repetiu durante seis meses seguidos, sempre no dia 13. Deus, pelas mãos de Nossa Senhora, esteve sempre presente em sua vida.
Fábio não está mais aqui, mas deixou o 13 para sua família sentir sua presença e o cuidado de Nossa Senhora.
Fábio nasceu em Campina Grande (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Fábio, Christiane Moura Magalhães Guimarães. Este texto foi apurado e escrito por jornalista João Vitor Moura, revisado por Lígia Franzin e moderado por Phydia de Athayde em 8 de novembro de 2020.