1967 - 2020
Fernando não temia a morte, entendia sua inevitabilidade e dizia estar pronto para quando chegasse a sua hora.
Uma palavra que todos sempre usam para descrevê-lo é “trabalhador”.
Fernando foi mesmo um homem muito devotado ao trabalho. Filho de imigrantes japoneses, aprendeu desde cedo o valor do trabalho e a importância de honrar com seus compromissos.
De domingo a domingo estava lá, em seu mercadinho, não importava se era feriado ou datas comemorativas, ele sempre estava lá. Inclusive, quando adoeceu, ainda queria continuar indo ao trabalho. Foi forçado a ir ao hospital e mesmo quando estava internado, ainda se preocupava em saber como estava seu mercadinho.
Depois que se converteu ao catolicismo, devoto fervoroso de Nossa Senhora, o dia da procissão dedicada a ela, era o único dia do ano que fechava o mercadinho e caminhava por cerca de 10 km para homenageá-la. Ele tinha no quarto de dormir, um pequeno altar dedicado à Mãe de Jesus... uma surpresa encontrada depois que ele se foi.
Com um jeito tímido, uma risada fácil e não falava muito. Tinha muito orgulho da sua filha única, a Sayuri. E falava para todo mundo que ela logo seria médica e que cuidaria dele a partir de então.
Sempre se animava ao conversar sobre a formatura e esperava ansioso pela próxima visita. Fernando foi um pai maravilhoso, mesmo divorciado, sempre esteve presente na vida da sua filha e nunca deixou que lhe faltasse nada. Demonstrava seu amor mais por gestos afetuosos que por palavras, mas nunca deixou de demonstrá-lo.
Desse carinho silencioso, mas intenso, a Sayuri lembra a primeira vez que seus pais a levaram a um parque de diversões. A pequena menininha encantou-se pelo carrossel. Tanto foi o encantamento, que quando o brinquedo parava, ela se desmanchava em lágrimas. E tanta era a tristeza, que o pai corria para comprar uma nova volta para a pequena. A cena se repetiu incontáveis vezes, até que a mãe interveio. Segundo ela, se deixassem a menina passaria a noite girando no carrossel.
Será sempre lembrado com muito amor por todos que o conheceram. E deixa saudades, principalmente no coração da futura médica a quem tanto amou.
Fernando nasceu em Tomé-Açu (PA) e faleceu em Castanhal (PA), aos 52 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Fernando, Sayuri Sato. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Hélida Matta, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 23 de julho de 2020.