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Flávia Sirlei Ramos

1952 - 2020

Mulher forte e otimista. Tinha uma receita única de galinhada e um sorriso que não se apagará.

Pola ou Tia Lala. Assim era conhecida a gaúcha Flávia por seus sobrinhos. Mulher forte, venceu grandes batalhas na vida. Passou por um período turbulento ao morar com o pai na infância e foi no reencontro com a mãe e irmã, Margarete, que descobriu novamente o significado de família.

Casou-se e conquistou a maior realização de sua vida, ser mãe de Sandro e Alexandre, pelos quais lutava todos os dias. Reverenciando as mulheres fortes que fizeram parte da sua criação, teve coragem de colocar um ponto final em seu casamento. Saiu de casa, carregando na bagagem apenas sua fé e o amor pelos filhos. Com a ajuda da irmã reergueu-se e, com a força do seu próprio trabalho, conquistou seu espaço.

A esperança sempre foi companheira na vida de Flávia. Perdeu o primogênito aos 34 anos e o mais novo passou a depender totalmente dela após um acidente de moto. Essa aproximação com Alexandre, sempre carregada de amor e afeto, ocupava seus dias e a fazia feliz. Sua sobrinha, Tatiane, conta que a tia não era de se deixar abater. “Sempre brincava e sorria, apesar das rasteiras que a vida lhe impunha.”

O coração de Pola era grande e cheio de afeto para partilhar: além de se dedicar aos cuidados do filho, ainda criava o cãozinho Zé Bob, um yorkshire cego que adotou e cuidava como se fosse criança.

Sua luta era incansável. Buscava na Justiça garantir um auxílio para o filho e pôde comemorar a seleção para um programa social que lhe permitirá realizar o sonho de ter a casa própria.

Tatiane também conta que viveu grandes momentos ao lado da tia, uma mulher otimista e que arrumava jeito para tudo! Devido à pandemia, não podia segurar no colo o sobrinho-neto recém-nascido. Logo, arrumou uma solução: ligava e ouvia os gritos do bebê pelo telefone. Estava sempre sorrindo e brincando com todos. Na cozinha, tinha uma receita de dar água na boca: uma saborosa galinhada. "Ninguém sabe fazer igual!", garante a sobrinha.

Pola sempre se manteve de pé e com o sorriso aberto. Tatiane lembra que a tia sempre dizia: "Vocês acharam que eu ia, né? Mas olha eu aqui!" Por mais que ela tenha ido, fica no coração dos que a amavam uma voz que não se cala e uma alegria sem fim.

Flávia nasceu em Novo Hamburgo (RS) e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Flávia, Tatiane Kaiser. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Gabriel Rodrigues, revisado por Lígia Franzin e moderado por Phydia de Athayde em 3 de fevereiro de 2021.