1936 - 2020
Eloísa era o sol que iluminava a vida de seus filhos e netos, hoje brilha no céu como a estrela que os protege.
Imagine uma menina que nasceu numa casinha no interior do interior do Ceará, na localidade de Tanques de Jaguaratema. O lugar era tão simples que o funcionário do cartório esqueceu-se de registrar o sobrenome da menina; ficou sendo Francisca Eloísa, simplesmente. Só ganhou os dois sobrenomes, Pinheiro do pai e Marques do marido, quando se casou. A casa não tinha sequer um banheiro dentro, mas tinha um pai extremoso e cheio de coragem, que sonhou e fez realizar o sonho de dar aos filhos uma vida diferente da sua.
Foi graças à determinação de seu pai que Eloísa, mais seus seis irmãos, foram enviados para a casa da tia, em Jaguaratema, assim que completavam a idade certa para ir à escola. Podiam escolher outras coisas, mas não tinha esse negócio de escolher não estudar.
Eloísa levou tão a sério seu destino, que se formou na primeira turma de Farmacêuticos Bioquímicos do Estado do Ceará. Não satisfeita, e para provar que era uma moça muito à frente de seu tempo, foi a primeira mulher a lecionar no Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, onde permaneceu por 25 anos. Aposentou-se e seguiu lecionando na Universidade de Fortaleza por mais 15 anos. Quando decidiu parar de trabalhar, estava prestes a completar seus 70 anos.
O trabalho, no entanto, nunca tirou de Eloísa o prazer de ser a melhor das mães para seus três filhos, João Antonio, João Luiz e Joana Darc. O primeiro, neurocirurgião, o segundo fez Economia e é dono de uma oficina, e a caçula formou-se enfermeira. Cresceram vendo a mãe estudar e trabalhar; seguiram seus passos.
Viveu um casamento feliz com João Marques Filho, até que o companheiro adoeceu e passou quatro anos e meio acamado e, infelizmente, veio a falecer. Eloísa fazia questão de cuidar do esposo pessoalmente, passava a noite olhando por ele, velando seu descanso. A cuidadora, contratada para ajudar, dormia no quarto ao lado. Dona de um coração generoso e altruísta, também se responsabilizou pelos pais e sogros idosos e por um irmão que era paraplégico. Durante toda sua vida soube cultivar o afeto, teve muitos amigos verdadeiros, amou e foi amada.
Vó Isa era louca pelos netos, Gabriela, Isabela, João Neto e Maria Eloísa, que recebeu o nome da avó como forma de homenagem da filha Joana. Sua maior felicidade era estar com a família, seja nas atividades do dia a dia ou nos animados almoços de domingo, que agora ficaram mais tristes sem a sua presença. Fora isso, era fã incondicional de Nelson Gonçalves; passava horas ouvindo e cantarolando suas músicas. Também gostava de dar suas voltinhas no shopping e de fazer compra no “mercantil” que é a maneira como os cearenses legítimos chamam os supermercados.
A filha, Joana Darc, escreveu uma linda homenagem para sua mãe em 31 de maio de 2020, quando completou um mês de sua partida: “Aquela mulher forte, corajosa era o próprio sol em minha vida, o amor, o pouso, o colo. Quando ela me ouvia, me consolava ou dava conselhos sempre assertivos e me fazia levantar, olhar para frente e seguir, eu ficava mais forte, até porque eu sabia que tinha para onde voltar. Essa certeza, me transformou na pessoa que sou hoje, mulher formada, mais de 40 anos, profissional com 18 anos de história, esposa e mãe. A saudade é dilacerante, mas sei que aquele brilho, aquela força ainda estão aqui, na genética dos seus filhos e netos, nas nossas ações e palavras. A senhora está viva em nós!!! Amo muito!!! Amo que dói!!!”
Francisca nasceu em Jaguaretama (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Francisca, Joana Darc Pinheiro Marques. Este tributo foi apurado por Ana Macarini, editado por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 22 de julho de 2020.