1938 - 2020
Quando tinha queijo de manteiga, era preciso vigiar a "Vovó Cinete", se não era capaz de ela comer um inteirinho.
Homenagem da neta Cíntia à sua amada "Vovó Cinete":
Vovó era a serenidade, o amor e o cuidado personificados em um ser. Ela amava ter a casa cheia e amava o cantinho dela. Sempre que saía perguntava que horas a levariam pra casa. Mãe de 12 filhos, ela construiu uma família linda. Vários netos e bisnetos; todos a chamavam de "Vovó Cinete" com todo carinho.
Ela fazia um jantar daqueles, misturando tudo que sobrou do almoço, e o amor era seu mais especial tempero. Ela fazia um prato único, com tudo misturado: arroz, feijão, macarrão, cuscuz... Só ela sabia preparar essa iguaria. Era delicioso. Os sucos também eram bem originais, ela amava misturar várias frutas, ficava muito gostoso. Sempre que chegávamos em sua casa tinha comida prontinha no fogão e ela só sossegava quando via a gente comendo. A primeira coisa que ela perguntava era "Já almoçou?"; "Já jantou?"; e não parava de oferecer comida até que a gente aceitasse alguma coisa.
Comigo tinha uma situação que era bem pitoresca: era eu chegar na casa dela, vovó dava uma boa avaliada em mim e concedia o veredito: "Tá magra!"; ou "Tá gorda!"; chegava a ser engraçado, porque tanto fazia ela achar que havia emagrecido ou engordado, ela oferecia comida do mesmo jeito.
O seu legado foi construído sobre alicerces de muito trabalho e caridade. Ela ajudava a todos sem exceção, e sempre com serenidade. Socorreu muitas pessoas; tinha o costume de ir para a porta do hospital - próximo da casa dela -, e não deixava ninguém passar fome. Levava pessoas que tinha acabado de conhecer para dentro de casa, e dava comida, dava bebida e, se possível, dava dormida também. A coisa que mais ouvi quando ela partiu foi isso: que minha avó era uma mulher caridosa. Todos a conheciam como D. Francinete ou simplesmente "Vovó Cinete".
Vovó era tranquila e meiga, às vezes um pouco melancólica; suspirava e dizia , "Ai.. Ai...", olhando para o nada. Ela ficava toda feliz quando alguém fazia cafuné nela e gostava muito de rezar, era uma mulher de muita fé. Tinha paixão por queijo de manteiga. Para deixar minha avó feliz era só dizer que tinha essa delícia em casa. Gostava de colocar uma cadeira na calçada para apreciar o movimento; ou simplesmente de ficar sentadinha dentro de casa. Também tinha uma mania de passar os dedos um ao redor do outro - os polegares - girando, fazendo círculos no ar.
A gente tinha o hábito de a convidar para vir passar os finais de semana em nossas casas. Mas ela era sempre resistente em sair do cantinho dela; algumas vezes dizia que estava doente, gostava de fazer um pequeno drama. No fundo, era porque o que a fazia feliz mesmo era ver a mesa farta e a casa dela cheia de netos. Ficou viúva em 2007; no entanto, nunca ficou sozinha, sempre cuidou dos filhos, dos netos e bisnetos; e era cuidada por nós também com o mesmo amor.
Se a "Vovó Cinete" estivesse aqui, ela ia querer saber se estávamos todos bem; ia dizer que estava em casa, na vidinha dela de sempre; ia suspirar "Ai... Ai...", olhando para o céu, pensativa, como quem espera sempre alguma resposta de Deus. Ia dizer que "Véi não sai de casa!"... Mas que adoraria passar uns dias fora. E, principalmente, ia querer seus 12 filhos e inumeráveis netos e bisnetos ao seu redor, porque era essa a vida que ela amava.
Ahhhh vovó, você deixou muito de si em nós e sei que conseguiremos seguir a vida à luz do seu exemplo de amorosidade! Sempre te amaremos. Obrigada por seus olhos lindos sempre a nos olhar. Agora eles brilham ainda mais onde a senhora está!
Francisca nasceu em Mauriti (CE) e faleceu em Brejo Santo (CE), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Francisca, Cíntia Gomes de Sousa. Este tributo foi apurado por Letícia Virgínia da Silva, editado por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 29 de novembro de 2021.