1931 - 2020
Uma mulher mais que especial, uma fortaleza espiritual que trouxe à luz muitos meninos e meninas do Manaquiri.
Vovó Chiquinha era uma mulher guerreira. Nem a árdua missão de criar 11 filhos nos seringais das calhas do rio Juruá foi capaz de abatê-la ou de diminuir seu apreço pela vida. Era agricultora, sua vida dividia-se entre a rotina de dona de casa e os plantios na roça.
Na década de 80, já viúva, foi para Manaus e, logo em seguida, mudou-se para uma fazenda na interiorana Manaquiri, onde conquistou inúmeros amigos e se tornou uma pessoa conhecida e muito querida por todos devido à sua simpatia e honestidade.
Sempre muito atenta a tudo que estivesse ligado aos seus, era a base estrutural da família Oliveira. Apesar de desde muito cedo ter sido acometida por algumas doenças limitantes como reumatismo e problemas cardíacos, Francisca viveu intensamente e era muito forte espiritualmente.
"Amávamos muito nossa vó Chica, pois era sempre ela que nos acalentava nos momentos de apuro, que nos defendia das palmadas de nossa mãe", relembra saudoso Rogério, o neto mais velho e o mais próximo da avó.
Suas mãos calejadas e coração acolhedor tiveram o precioso dom de ajudar a trazer à luz muitas crianças nos lugares mais remotos do imenso estado do Amazonas. Era uma parteira muito requisitada na longínqua Miraáua, a comunidade onde morava no município de Manaquiri e de onde o acesso aos hospitais carecia de uma viagem de horas até Manaus. Não tinha hora para atender aos chamados dos ribeirinhos, Francisca estava sempre a postos.
"De minha avó ficaram a saudade e as lembranças de uma vida ao lado dela. De muitas conversas e risadas enquanto pescávamos e plantávamos milho e feijão na vazante. Minha infância foi sempre ao seu lado. Ela era muito boa comigo, saíamos em busca de seus animais pelas matas da região. Certa vez, ganhei dela uma bezerra que mais tarde se multiplicou em outras tantas", conta Rogério.
Seus sonhos foram sempre relacionados ao futuro da família, queria dar o melhor para eles, uma vida digna para todos. Estava sempre disposta a ajudar o próximo, independentemente de serem ou não familiares, tentava a todo custo fazer o bem.
Ela se dedicava aos filhos e netos e era especialmente atenta a tudo que envolvia a família. Tranquila e muito sábia, o neto conta que nunca a viu desesperada por nada, mas sim, "passando muita segurança e força a nós todos".
Rogério conta que poderia passar muito tempo contando sobre a avó, relembrando a felicidade dela com toda a família reunida para comemorar os aniversários; os cafés da tarde com tapiocas e de todos os conselhos, carinhos e vezes em que ela o defendeu de toda e qualquer ameaça, mas com o coração repleto de saudade, apenas conclui:
"Acredito que ela esteja ao lado do Nosso Senhor Jesus Cristo, zelando por todos nós lá do céu. Fique em paz, vovó Chiquinha!"
Francisca nasceu em Cruzeiro do Sul (AC) e faleceu em Manaquiri (AM), aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo neto de Francisca, Rogério Oliveira de Freitas. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Lígia Franzin em 31 de março de 2021.