1926 - 2020
Alegre e piadista, amava tomar sua água frappé, ouvir forró e contar histórias.
Carta escrita por Flavio Vinicius Soares de Souza, em homenagem ao avô Francisco Airton de Souza:
Francisco Airton era o "ancião", como ele próprio se descrevia. Nos ensinou muitas coisas, ensinava todos os dias, baseado num saber adquirido pela prática e pela experiência. Simpático e piadista, com ele não tinha tempo ruim. É uma pena que daqui para frente não possamos mais contar com a sua presença calma e sorridente nem rir de suas piadas ou ouvir e reouvir as suas histórias.
Como quando contava que esteve no Rio de Janeiro, no Cadete, em 1954, durante a morte de Getúlio Vargas; e viu o clamor popular diante do acontecimento. Ou a história de como deixou o Ceará e foi para o Rio na carroceria de um carro, numa viagem que durou dez dias: "Sem tomar banho, nem trocar de roupa". Ao chegar ao seu destino, teve que se desfazer da muda de roupa que vestia porque ainda que fosse lavada, ela não serviria mais. No Rio, sentia-se frustrado pois, mesmo estando na então capital do País, ainda queria voltar para o Ceará.
Falando em capitais, Francisco Airton sabia de memória todas as do Brasil, sem titubear, mesmo depois de já ter completado 93 anos de vida. A sua sabedoria nos ensinou a não descrer de nada, com uma única exceção: "Tudo é possível, só não é possível existir dois altos sem uma baixa no meio".
Se entrasse num carro, instantaneamente pedia: "Coloque um forrozinho aí nesse som" - e já tinha o CD preferido (instrumental de sanfona), com o qual andava sempre munido. Se ia pedir um copo de água, não se satisfazia com qualquer tipo: "- Tem que ser água frappé.
- Mas o que é água frappé? - Gelada, mas nem tanto".
Foi uma honra ter dividido com o senhor o mesmo tempo e espaço. Sei que o espírito do senhor não encontrará limites. E sua ciência, seu bom humor contumaz e sua visão arguta permanecerão gravados no espírito de quem teve a alegria da sua convivência. É com muita tristeza que somos obrigados a dizer adeus.
Francisco nasceu em Jaguaribe (CE) e faleceu em Jaguaribe (CE), aos 93 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo neto de Francisco, Flavio Vinicius Soares de Souza . Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Renata Meffe, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 16 de maio de 2021.